Educação Clássica Cristã: a união divina da sabedoria e da moral

No prefácio da série de livros “Homens Famosos“, os autores, Superintendentes de Educação Escolar de Nova Iorque e Nova Jérsei no início do século XX, apresentam um argumento que, mais de um século depois, continua vivo, atual e inteiramente válido, verificável em sua própria casa, ao ensinar História a seus filhos:

“O estudo da História, tal como o estudo de uma paisagem, deve principiar pelas suas feições mais visíveis. Os aspectos menores não ocuparão seus lugares apropriados nem assumirão suas proporções certas antes que essas feições maiores estejam fixas na memória.
Os homens famosos dos tempos antigos e modernos são os picos de montanhas da História. É lógico, portanto, que o estudo da História seja introduzido pelas biografias desses homens.
Não somente é lógico, como também pedagógico. A experiência provou que, para atrair e manter a atenção das crianças, para cada evento conspícuo da História que se lhes apresente, um indivíduo deve ocupar posição central. A criança identifica-se com o personagem apresentado. Não é Rômulo, Hércules ou César que a criança tem em mente quando lê, mas ela própria, agindo sob condições similares.
Proeminentes educadores, tendo em vista essas verdades, há muito reconheceram o valor da biografia como preparação para o estudo da História, conferindo-lhe importante posição em seus planos de estudos.”

O estudo das vidas dos grandes homens e mulheres – heróis, mártires, santos, cientistas, filósofos, líderes, políticos, oradores, empresários, ativistas – apresenta ao leitor uma oportunidade de agregar à sua experiência individual a trajetória de outras vidas, a herança mais valiosa que a Humanidade pode legar às gerações seguintes. Seus erros e acertos; seus pecados e virtudes; suas hesitações e sua coragem: tudo isso fornece respostas e orientação de vital importância na Educação para a vida.

Tenha em mente que todos os dilemas com que nos defrontamos na vida já foram vividos antes de nós por alguma pessoa. Os registros desses dilemas, as decisões que foram tomadas, os atos que foram praticados e as consequências desses atos constituem um tesouro de experiência que permite reconhecer a real natureza dos problemas que enfrentamos e escolher o curso mais sábio de ação, evitando as armadilhas e os tropeços de nossos antepassados, reproduzindo, atualizando e aperfeiçoando em nosso próprio tempo a sabedoria de suas maiores realizações.

A Educação Clássica, ao incorporar o estudo da vida e do pensamento dos grandes realizadores da História Humana, das origens de nossa civilização, de nossas ideias e valores mais caros, propicia ao estudante uma percepção abrangente e profunda da realidade circundante. O estudante que recebe uma Educação Clássica Cristã amplia essa experiência humana ao absorvê-la como parte integrante dos valores divinos legados por Nosso Senhor Jesus Cristo.

São Basílio Magno – São Tomás de Aquino – Papa Bento XVI. Fontes: (1)https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Basil-the-Great.jpg
(2)https://pt.wikipedia.org/wiki/Tomás_de_Aquino#/media/File:Angelico,_san_tommaso_d%27aquino_alla_fondazione_cini.jpg
(3)https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Benedykt_XVI_(2010-10-17)_4.jpg

Essa verdade não escapa aos grandes filósofos e teólogos cristãos. Por exemplo, o Papa Emérito Bento XVI, afirma que São Basílio, em seu Discurso aos Jovens, “com muito equilíbrio e abertura, reconhece que, na literatura clássica, grega e latina, se encontram exemplos de virtude”.  (1)

O Pe. Soter Schiller pontua sobre como foi ousada para a época, além de muito positiva, a atitude de São Basílio: “Tomando essa posição, muito aberta para o seu tempo, Basílio, junto com alguns seus coetâneos, contribuiu para impedir que uma determinada ala da elite cristã incluísse na sua ‘derrubada de ídolos’ também a ciência e a literatura antiga e fez com que no meio cristão prevalecesse a posição positiva perante a cultura clássica. Assim, por conseguinte, a Igreja veio a tornar-se o veículo transmissor do patrimônio cultural da Antiguidade para a Idade Média e para os tempos modernos”. (2)

Já Ruy Afonso da Costa Nunes dá relevo ao papel fundamental dos mosteiros católicos na preservação do conhecimento clássico: “O saber antigo preservou-se nos livros que os mosteiros e as igrejas agasalharam carinhosamente”. (3)

O próprio Vaticano oferece um testemunho vivo, tridimensional, desse conceito, preservando as grandes obras de arte da Grécia e da Roma Antigas, além de um riquíssimo acervo da produção literária e intelectual das civilizações que constituem o nosso verdadeiro berço.

Enfim, não há dicotomia, contradição, entre ser cristão e estudar os clássicos. É preciso conhecer, apreciar e absorver o que nossos antepassados gregos e romanos realizaram, guardando-os como lições para a vida através dos ensinamentos de Jesus Cristo e dos filósofos cristãos, para que seja possível manter a integridade moral enquanto enfrentamos e vencemos as dificuldades e desafios do mundo.

Fontes:

(1)

PAPA BENTO XVI. São Basílio Magno da Cesaréia. Disponível em: https://www.bibliacatolica.com.br/blog/sao-basilio-magno-da-cesareia/#.XJGKsUTQjX4.

(2)

SCHILLER OSBM, Pe. Soter. São Basílio, o “Discurso aos Jovens”: Cristianismo, cultura clássica, educação uma introdução. Disponível em: https://osbm.org.br/wp-content/uploads/2016/10/artigo01-sao-basilio-discurso-aos-jovens.pdf.

(3)

NUNES, Ruy Afonso da Costa. História da Educação Na Idade Média. Kyrion, 2018, p. 87.

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