Método Clássico: o desafio de selecionar bons livros em Língua Portuguesa

No mês que se passou, visitamos uma cidade com aproximadamente 600 mil habitantes e, como sempre, aproveitamos para visitar nossas lojas preferidas: as grandes livrarias.

Qual não foi o choque ao descobrir que o acervo de livros, no último ano, havia encolhido dramaticamente, cedendo cada vez mais espaço a artigos de papelaria. Não bastasse a redução do acervo, os títulos dispostos ao longo das prateleiras limitavam-se a best-sellers fúteis, sem conteúdo significativo, redigidos em linguagem simplória permeada de chavões.

É com tristeza que comprovamos o desaparecimento dos livros clássicos das prateleiras. Hoje, estamos limitados a adquirir livros em livrarias internacionais, ou nos dedicarmos a varrer os sebos online em busca de antigas edições com linguagem mais refinada.

Sobre esse tema, publico o texto original a seguir, redigido por uma grande amiga que educa seus filhos pelo método clássico e nos conta sua experiência na busca de boa literatura para seus filhos.

~Géssica Hellmann

Cavaleiros e Caravelas

Uma das maiores dificuldades encontradas por pais brasileiros que optaram por oferecer uma educação clássica, baseada na boa literatura, aos seus filhos é, justamente, encontrar essas boas obras.

Nosso primeiro impulso é correr atrás dos livros indicados por pessoas que já praticam a educação clássica há mais tempo e, assim, nos vemos cercados de autores como Laura Berquist (Designing Your Own Classical Curriculum) ou Andrew Campbell (The Latin-Centered Curriculum). Folheando essas obras podemos ficar um tanto decepcionados: não é que esses livros não existam. pois existem vários, listas enormes de indicações de livros de literatura, inclusive para aprendizado de História, Geografia e, até, de Ciências e Matemática. Percebemos que não temos os mesmos livros aqui no Brasil e parece que tudo desmorona nos nossos projetos.

Inicia-se, então, uma busca quase insana por livros nacionais de qualidade; de boas traduções e boas adaptações: é uma tarefa árdua, mas não totalmente infrutífera. Nestes poucos anos de busca já tivemos grandes e boas surpresas.

Vou falar sobre duas delas: Uma mais voltada para os jovens e adultos e outra para as crianças. Ambos tratam do mesmo tema: As primeiras navegações e as primeiras descobertas na África até a viagem de Vasco da Gama e o descobrimento de nossa Terra de Vera Cruz.

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O livro de Gilbert Renault, “As Caravelas de Cristo”, foi escrito em 1956. Ele, que foi o nono filho em uma família católica francesa, descreveu toda a epopeia das grandes navegações de forma magistral, desmontando todos os erros ensinados e insinuados pelos atuais livros ´didáticos´ de história. O livro inicia a narrativa com a entrega das espadas oferecidas pela Rainha D. Felipa de Lencastre a seus filhos, antes de falecer, vítima da mortal peste que assolava Lisboa.

“Diz-se que as armas oferecidas pelas mulheres amolecem a coragem dos cavaleiros. Mas a linhagem da qual descendo me faz crer que, se os Infantes receberem de minha mão estas espadas, seus corações não serão enfraquecidos.”

As ilustrações muito bonitas e singelas, assim como os trechos de Os Lusíadas entre os capítulos enobrecem a edição da Editora Permanência, de 2012.

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O segundo livro, voltado para as crianças, se chama “O castelo dos três pendões”, escrito pelo poeta brasileiro Balthazar de Godoy Moreira. Trata-se de um verdadeiro romance de cavalaria medieval misturado às aventuras náuticas. Neste livro, o nobre cavaleiro Valério se vê na difícil missão que seu melhor amigo e Rei, Dom Manuel lhe incumbe como uma honraria: ser comandante de um pelotão de infantes na armada que seguia para as Índias. Infelizmente não encontramos nova edição desde livro, como o “Caravelas de Cristo”. A edição que encontramos foi a da Editora do Brasil e só pode ser comprada em sebos. Recomendo.

* Este artigo é mãe e educadora, autora do blog “Clássica em Casa – Educação Clássica no Lar Católico” e responsável pela comunidade “Clássica em Casa” no Facebook.

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