Multum Non Multa

Com o intuito de oferecer a melhor educação possível a nossos filhos, muitas vezes contratamos tutores especializados e inscrevemo-los em diferentes cursos e atividades extras, somente para perceber, após algum tempo, que mesmo com todos os horários da semana ocupados para este fim, eles não progridem muito em seu aprendizado.

De início, é essencial compreender que: (1) aulas expositivas e o ato de estudar são coisas distintas; (2) preencher a sua grade horária semanal com diferentes atividades não garante necessariamente a aquisição de conhecimento ou o domínio de habilidades específicas.

Qual é o benefício das aulas expositivas? É ter acesso a um resumo oral das principais ideias sobre um assunto. Numa aula expositiva, raramente, será dito “tudo o que há para saber” sobre um tema específico. O professor seleciona as informações que ele considera mais importantes para o nível de desenvolvimento do estudante, raramente transmitindo tudo o que sabe, devido ao tempo limitado da aula.  Parte dessas informações serão assimiladas pelo aluno em sua memória de curto prazo auditiva. Mas a memorização efetiva das principais ideias só ocorrerá quando o estudante se tornar ativo no seu processo de aprendizagem, isto é, quando fizer o esforço de expressar oralmente e por escrito as principais ideias estudadas.

Para um aprendizado eficaz, o estudante deverá analisar as informações expostas em aula e, de forma independente, empreender uma pesquisa mais aprofundada, incluindo fontes primárias e secundárias, comparando-as, sempre que possível, com a própria realidade circundante.  Ao analisar as fontes extras, o estudante procederá a um “fichamento” deste conteúdo. Este registro, somado ao registro escrito da aula expositiva, será a base por meio da qual o estudante selecionará os principais conceitos e ideias que deverá reter na memória.

Paralelamente, quando aprendemos uma habilidade artística como, por exemplo, tocar um instrumento musical, não bastará participar da aula instrutiva e prática do curso, mas será essencial que, diariamente, se reserve algum tempo para o treino individual da habilidade exercitada em aula. Neste caso, o objetivo é desenvolver uma memória motora e auditiva.

O mesmo se dará na prática esportiva, quando essa não for meramente recreativa. Digamos que seu filho pratique uma arte marcial ou qualquer outro esporte competitivo. Será necessário um esforço extra para fortalecer a musculatura e prevenir futuras lesões, assim como a implementação de mudanças de hábitos alimentares e manutenção do sono adequado para recuperação do corpo do atleta. Todos esses fatores extras ocorrerão fora do horário do treino esportivo, mas serão essenciais para que aquele jovem se torne competitivo e se destaque em sua modalidade esportiva.

Em resumo: o estudo propriamente dito, é um esforço individual que deve ser feito após as aulas expositivas. O esforço de memorizar os principais fatos e conceitos estudados é essencial para o aprendizado. Não existe aprendizado sem memorização.

Muitos pais educadores, procuram preencher a grade semanal de seus filhos com atividades intelectuais, cursos especializados, esportes, música, arte… E o fazem acreditando que assim seus filhos terão um “aprendizado mais completo”. Mas, ao fazê-lo, esquecem-se de que o estudo propriamente dito ocorre após as “aulas expositivas”. Toda nova habilidade exigirá do estudante um tempo extra para o treino individual; cada conhecimento estudado necessitará de um tempo extra para a memorização e aprendizado.

Na pedagogia clássica é altamente recomendado adotar o princípio “Multum Non Multa1, ou seja, é preferível estudar algumas coisas muito bem, do que muitas de forma medíocre. O mesmo princípio devemos adotar na alocação do tempo que dedicamos ao aprendizado. Qualidade é sempre preferível à quantidade.

Como podemos ajudar nossos filhos? Primeiramente, oferecendo acesso a bons livros para pesquisas aprofundadas. Segundo, procurando participar mais ativamente no seu processo de aprendizado, conferindo se estão memorizando o conteúdo e fazendo as tarefas atribuídas a cada disciplina. Terceiro, gerenciando o tempo destinado às diferentes atividades: quais são prioritárias? Quanto tempo será necessário para a memorização do conteúdo ou desenvolvimento daquela habilidade específica? São esses os pontos a ponderar.

Como educadores, devemos ter em mente qual ser humano desejamos formar. Quais qualidades morais, virtudes e habilidades desejamos incutir na mente e no coração de nossos filhos. Educar é um ato de amor e, como tal, exige esforço, disciplina, cuidado e acompanhamento constante.

1 – PERRIN, Dr. Christopher.  Multum Non Multa. (https://classicalu.com/courses/principles-of-classical-pedagogy/lessons/principles-of-classical-pedagogy-lesson-2/)

Vias Clássicas Valorizando o Conhecimento