A educação da vontade ordenada para Deus na vida intelectual

Qual é o melhor momento para se dedicar aos estudos? O presente. Não há momento ideal, a vida sempre nos oferecerá pequenos obstáculos, um resfriado, contas a pagar, a manutenção do lar, a vida profissional, crise financeira… Como afirmou Lewis em seu sermão “Aprendizado em tempos de guerra”, pregado em 1939 na Igreja de “St. Mary the Virgin”, em Oxford:

“Nunca faltarão razões plausíveis para adiar todas as atividades meramente culturais […] Mas a humanidade há muito tempo escolheu negligenciar essas razões plausíveis. Eles queriam conhecimento e beleza agora, e não esperariam pelo momento adequado que nunca chegaria. A Atenas de Péricles deixa-nos não só o Partenon mas, significativamente, a Oração Fúnebre. […] Os homens propõem teoremas matemáticos em cidades sitiadas, conduzem argumentos metafísicos em celas condenadas, fazem piadas no cadafalso, discutem o último novo poema enquanto avançam para as paredes de Quebec, e penteiam seus cabelos nas Termópilas. Isso não é brio; é a nossa natureza”.

 

Santo Agostinho

Justamente quando enfrentamos dificuldades, é que devemos, mais profundamente, nos dedicar aos estudos. Quanto mais buscarmos a contemplação da verdade, mais ferramentas encontraremos para decifrar a realidade que nos cerca. Devemos fazê-lo independente da expectativa de um “diploma” ou de um “certificado de conclusão de curso”–todas essas, coisas secundárias. A busca desinteressada pela verdade consegue tocar a nossa alma, despertar em nós uma luz que nos permitirá enfrentar quaisquer obstáculos, ainda que pareçam intransponíveis.

Deus nos deu o dom da inteligência e temos a obrigação de desenvolvê-lo para melhor compreender e cumprir a nossa vocação.

Simone Weil, em seu livro “Espera de Deus – Cartas escritas de 19 de janeiro a 26 de maio de 1942”, afirmou que a formação da faculdade da atenção é o objetivo verdadeiro e, praticamente, o único interesse dos estudos. Os demais interesses intrínsecos em torno dos estudos são secundários. Os estudantes que amam a Deus não deveriam jamais dizer que amam determinada disciplina ou objeto de estudo. Segundo a autora, devemos aprender a amar todos eles, porque isso nos faz aumentar essa “atenção” que, orientada para Deus, é a própria substância da oração. Ou seja, mesmo que não consigamos encontrar imediatamente a solução ao problema estudado, o esforço de manter-nos concentrados operará benefícios na alma.

A autora cita, como exemplo, o Santo Cura d’Ars que, durante longos e dolorosos anos, se dedicou ao aprendizado da Gramática Latina. Toda essa atenção dirigida aos estudos permitiu que o santo recebesse o dom de perceber as almas dos penitentes por trás de suas palavras e, até, de seu silêncio.

Precisamos orientar nossa vontade, nossa capacidade de atenção, gostando ou não da disciplina estudada, pois só a vontade orientada para Deus tem o poder de elevar nossa alma.

Para conseguir orientar corretamente nossa atenção aos estudos, precisamos desocupar a mente das “preocupações”, principalmente, daquelas cuja solução não se encontra agora ao nosso alcance. É preciso organizar a nossa rotina diária equilibradamente: um tempo para os estudos, um tempo para para o cuidado com o corpo e saúde (alimentação equilibrada, atividades físicas, sono regular), um tempo para a vida profissional e um tempo para os cuidados da família.

A humildade também é outro fator fundamental: devemos ser capazes de compreender que há um oceano de coisas que não dominamos, que não conhecemos. Um esboço do nosso “Mapa da Ignorância” é um meio eficaz de priorizar o que devemos aprender de imediato e no que devemos buscar aprofundamento mais tarde. A humildade de “esvaziar a taça” para que, enquanto estudamos, sorvamos o néctar do conhecimento, é essencial para o aprendizado.

Referências:
Weil, Simone. Espera de Deus. (https://amzn.to/3PNT2y3 )
Lewis, C. S. Aprendizado em tempo de guerra. (https://www.christendom.edu/wp-content/uploads/2021/02/Learning-In-Wartime-C.S.-Lewis-1939.pdf)

Vias Clássicas Valorizando o Conhecimento