Semanas atrás, lançaram-me uma questão muito interessante: como podemos auxiliar nossos filhos num caminho de aprendizado autodidata? Após refletir bastante sobre o assunto, decidi apresentar, a seguir, um resumo de minha experiência pessoal sobre o tema.
O autodidatismo se desenvolve em etapas
Eu não saberia dizer se existe alguém 100% autodidata. Para isso, a pessoa precisaria ser um gênio ou ter atingido um estado de maturidade intelectual profunda. Mas é preciso reconhecer que, durante o caminho do desenvolvimento intelectual, os “mestres” podem nem sempre estar fisicamente presentes. Nesses períodos do aprendizado, nossos mestres poderão ser autores de livros ? didáticos ou não ? ou pessoas habilidosas que se deram ao trabalho de produzir um vídeo e disponibilizá-lo no Youtube. Em princípio, acredito que nós sempre precisaremos, no mínimo, de alguém cujo exemplo nos inspire o desejo de aprender.
Uma criança, desde que nasce, observa a expressão do rosto da mãe, sua voz, o ambiente em que vive. Todos esses estímulos ao seu redor funcionam como seus “mestres”, num aprendizado que surge como resultado dos exemplos colhidos no convívio com sua família.
Quando a criança cresce um pouco mais, ela aprende através do exemplo de boas histórias narradas pelos seus pais. Os autores dos livros lidos pelos pais e os personagens que eles criam, de certa forma, também se tornam seus “mestres” durante esse período.
Quando chega o momento da alfabetização, ensinamos nossos filhos a segurar o lápis, a desempenhar determinadas atividades, a reconhecer os números, as letras, sílabas e pequenas palavras. Nesse momento, os nossos filhos ainda são muito dependentes de nossa atenção. Como, então, poderemos desenvolver em nossos filhos um gosto pelo aprendizado autodidata?
A primeira coisa a se esclarecer é que o autodidatismo é o resultado natural de um processo eficaz de aprendizagem e desenvolvimento intelectual. É algo que vamos desenvolvendo à medida que adquirimos certos hábitos positivos para o desenvolvimento intelectual.
Aqui em casa, por exemplo, nós começamos primeiro a enfatizar a disciplina, isto é, adquirir o hábito de fazer determinadas atividades sempre num mesmo horário. Comece com 20 minutos de atividades diárias, e aos poucos, vá ampliando para 30, 40 e 60 minutos. Na fase anterior à alfabetização, a criança não precisa de mais do que 60 minutos de atividades diárias para criar um hábito disciplinado de estudos.
Após adquirir o hábito de estudar de forma disciplinada, enfatizamos a repetição e a memorização. Após um certo esforço inicial, você perceberá que sua criança irá adquirir crescente autoconfiança, conseguindo realizar algumas atividades sem sua ajuda. Nesse momento é preciso um grande reforço positivo: elogie seus filhos e lance um novo desafio, sempre levando em consideração que cada novo desafio deve ter um suave aumento de dificuldade em comparação com o anterior.
Nas fases de transição, você provavelmente precisará estar ao lado do seu filho, ajudando-o com explicações até que ele consiga desenvolver a capacidade de solucionar os novos desafios de forma independente. O autodidatismo se desenvolve em etapas. O método Kumon é um exemplo bem prático, nesse sentido, pois enfatiza a disciplina, a repetição e a dificuldade suavemente progressiva.
Em resumo, minha experiência mostra que o desenvolvimento intelectual eficiente inclui quatro ingredientes fundamentais: (1) disciplina, (2) repetição, (3) memorização e (4) dificuldade progressiva. A união desses fatores faz com que nossos filhos adquiram autoconfiança e consigam cada vez mais se aproximar de um ideal de aprendizagem autodidata.
Lembre-se também: sem memorização não há conhecimento. Na fase gramatical o mais importante é criar uma base sólida de conhecimento. Memorizar fatos, acontecimentos, personagens importantes, informações: Quando foi, quem fez, o que aconteceu.
A conexão de ideias e o entendimento de que um fato leva a outro deve ser conquistada em uma segunda etapa do aprendizado. Essa etapa só conseguimos desenvolver com plenitude quando temos a base solidificada com fatos, informações e conhecimentos.
Por isso não devemos ter medo de rever matérias já vistas ou exercitar habilidades já aprendidas, já que, algumas vezes, podemos passar de forma excessivamente rápida por algum conteúdo. Por exemplo, se o seu filho enfrentar dificuldade em algum aspecto da Matemática que ele já deveria dominar, volte a fazer exercícios mais simples para que ele ganhe autoconfiança. Este princípio vale para todas as demais disciplinas. É preciso entender que a autoconfiança é uma das características essenciais ao desenvolvimento autodidata.
Com o crescimento da autoconfiança, o passo seguinte é desenvolver o hábito da investigação. Aprender a fazer perguntas, procurar respostas, estimular a pesquisa. Sobre esse tema escreverei no próximo artigo.
2 comentários
1 menção
Muito bom! Parabéns pelo lindo trabalho! Gostaria de ter conhecido vocês quando meus filhos eram pequenos…
Gostei muito da matéria. Tenho lido muito sobre homeschooling.
[…] nosso último artigo tratamos sobre o caminho para o aprendizado autodidata. Como afirmamos nesse último artigo, para um crescimento intelectual produtivo, devemos começar […]