Largai-me na masmorra mais profunda, nas entranhas do planeta,
E minha voz penetrará vossos ouvidos
Sussurrante em cada brisa. Serei ouvido
No farfalhar das folhas de papel em que a tinta de vossa caneta
Registrará minha sentença.
Cortai minha cabeça e servi-a a vossa amante num prato:
Ouvir-me-eis no zumbido dos insetos,
No borbulhar do espumante premiado, infecto,
No roçar dos talheres de prata
Na carne da lagosta, rosácea e densa.
Sepultai meu corpo e, nas frinchas das paredes, escutai:
Minha língua incorpórea ainda fala, barítona,
De vossas culpas e sofismas, epítome,
De vossas blasfêmias, ai
De vós, raça de víboras – eis a cruz de vossa descrença!
Nas dobras de vossas togas, nos fios de vossas barbas,
Nos nós de vossas gravatas,
Nas mesas de aristocratas,
Nas camas que vos enfartam,
Minha voz dirá – Culpado! – até que as almas se convençam!