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Serpente pérfida

No bafio tímido da fraca chuva
Eriçam-se as folhagens do outono fero;
Faces sombrias, mudas enquanto espero
Feridas donzelas que meus passos julgam.

Dos golpes e estocadas as dores uivo
Sob os beijos quentes das pontas de ferro:
Malgrado a marcha aflita que a sorte enterra
Minhas pegadas: perdidas nódoas ruivas.

O desejo vívido que a carne açula,
Perverso estandarte que o mundo tremula,
Serpente pérfida que a meus pés sibila:

Num segundo crava sua presa aguda
Na carne que implora e grita por ajuda
Contra o mal e contra todos que o prefiram.

Senhor, iluminai

Senhor, iluminai
O meu anjo da guarda:
Que no inferno eu não arda
Sobre rubros metais.

Que sua aura reluza
A bondade divina
Sobre minha rotina
E o mal não me seduza.

Sob o olhar de Maria
Minha alma pecadora:
Segue a mão redentora,
Seja Cristo teu guia.

Ó Senhor, resguardai
O meu anjo da guarda
Que o eterno não tarda
E o Juízo não mais.

Minha voz não abusa
Da sagrada doutrina:
Do pecado refina
Toda mente confusa.

Sob o olhar de Maria –
Beijo santo em quem chora! –
Sorrio sem demora
Pois na Virgem confio.

A pedra e a fenda

Mais pressinto do que entendo
A fenda de tolices
Que cinge a religiosidade
Como resguardo de nociva carolice.
 
Uma e outra aparentadas no temor
de Deus, a primeira é grata refém
Da Bondade Soberana.
Na segunda intuo a ausência desse Amor
Infinito cuja coroa usurpa um supersticioso
Horror a todo Bem.
 
No solo ressequido do coração em pânico
Enraizam-se,
Germinam,
Brotam,
Defluem tortuosas frondes
Embaraçadas de angústias daninhas
E de ódios trepadeiros.
 
Do religioso, sobre a outra face
Da moeda que se dá ao inimigo,
Cumulam-se o
Ouro, a
Prata, as
Pedras inquebráveis,
Sobre quem se funda a nossa Igreja.

Sorte e Providência

Digo “boa sorte”,
Intento indiferença
Pois, Cristão, não sei a sorte:
Só a Providência.

Versão em espanhol por Catherine Espinoza:

Digo “buena suerte”,
Intento indiferencia
Ya que, Cristiano, no sé la suerte:
Sólo la Providencia.

Esperança e Fé

Esperança: amiga indelével da dor contrita
Cresta do espírito o solo devoluto,
Calca as fímbrias do manto da donzela aflita,
Esgarça a fibra do guerreiro resoluto.

Fé: esposa amantíssima do deleite eterno
Na mansidão febril da certeza e da verdade
Ergue a fronte em desafio ao pós-moderno
E inflama ao rubro, de outros tempos, a saudade.

Na ágora da vida, esperança e fé combatem
Em cada peito; prevalece a cada instante
Ora a dama, ora a santa, terçando ambíguas

As espadas do argumento, tão profícuas,
Tão prolixas em seus verbos adamantes,
Indiferentes a quantos eles matem!

Poemas