Arquivo por tag: eneassílabos

Imensidade

Solitário no deserto imenso,
Amiúde, na diminitude
de minha urbe, faço-me mudo
Relicário indesperto; penso
Na grandeza de infinitas neves,
Nos ferozes majestosos ventos:
Atrozes, horrorosos eventos
Na baixeza destas vidas breves.

Foto de Jade Lyf - Publicada sob permissão - Todos os direitos reservados.

Foto de Jade Lyf – Publicada sob permissão – Todos os direitos reservados.

Na imensidade somos minúsculas
Partículas de uma vontade
Inconcebível, até que tarde
Demais, no minuto do crepúsculo,
Fatalidades imprevisíveis
Como fátuos vestidos de gaze
Beijam o fado e à tona trazem
Debilidades dos infelizes.

(inspirado na foto)

Andrômeda

Andrômeda à rocha acorrentada
Esgazeia e grita, sente o bafo
De Poseidon; o monstro a farrapos
Reduz-lhe a vontade enquanto nada.

Estrondeantes os pés do monstro
Já os sentes cavalgando as pedras:
Ó, Andrômeda, por que te perdes
Nos pensamentos que mais te assombram?

Rembrandt: Andrômeda acorrentada às rochas.

Rembrandt: Andrômeda acorrentada às rochas. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/89/Rembrandt_Harmensz._van_Rijn_011.jpg

 

Andrômeda, não há mais Perseu,
Que empunhe da Górgona a fronte,
Que de tua sina seque a fonte;

Não há correntes, nem a Caronte,
Pagarás o óbolo, se a ponte
Para o Céu implorares a Deus.

A Guerra dos Aletômanos

De mitômanos arrodeados –
Qual de gregos os muros de Troia –
Fustigados por todos os lados,
Impenetráveis à paranoia:
Os aletômanos e aletófilos
Forjam espadas dos argumentos
Contra os sofismas mais estrambólicos
Qu’em cavalgada parem tormentos.

À carga! Velhacarias e memes,
Chovem setas, dardos de fake news*:
Nenhuma patifaria temem
Os que à Verdade encaram nus!
Aríetes humanos deveras
Remartelamos com nossos cérebros
O que se olvidaram nestas terras
Os que fazem da Razão um féretro!

Contra as massas de mentes estultas
Embebidas da mentira o heléboro
Nossas palavras são catapultas
O elixir que as salvará do Érebo!
Mas como a Verdade menoscabam,
E a toda Ciência prostituem,
E a toda Razão já destroçaram,
E toda malvadeza instituem,

Não há perspectiva de paz
Em qualquer direção no horizonte
Porquanto um bombardeio de “mas” –
Óbolos à bolsa de Caronte! –
Escudará os peitos refratários
À oferta de luzes do Ocidente:
Cedem suas almas aos sicários
Do vírus pulmonar do Oriente.


* Pronuncie “feicnuls”, não “feikinils”.

Poemas