Soerguendo-se no verde caos da floresta
O imponente tronco carcomido,
Eloquente testemunho da glória de tempos esquecidos,
Do velho pinheiro entoa o que de voz ainda lhe resta.
Em tom terrível o tétrico tronco admoesta
Os pecados que se alastram nos ganidos
Dos seres que em passos desmedidos
Dançam a seus pés a vida em festa.
Dos ramos ancestrais inda descaem pinhas
Que no solo árido rochoso estalam;
Alguns, aqui e ali, a esterilidade abalam,
E germinam, e brotam, e crescem, vencendo rinhas.
Nenhum tão profundamente se enraíza,
Porém, como o velho pinheiro:
Das raízes fazem pernas e por quaisquer dinheiros
Logo largam o solo e seguem enganosas brisas.
De suas pernas fazem naus e vão singrar as vagas fúrias
Deslumbrados com a leveza em que flutuam:
Até que os vagos movimentos que insinuam
Naufragam ambições, cobiças e luxúrias.
Mas não aprendem da nefasta experiência
Os deveres, os cuidados, o respeito venerando,
Que mesmo em dias de aprazíveis ventos brandos,
Exige o mar dos que lhe têm Ciência.
Não! Ao velho pinheiro toda a culpa cabe
De cada sofrência e desdita,
De toda dor que palpita,
No que ignora o que sabe.
Arremedando medrosamente o matusalênico mestre
Os pinheirinhos verdolengos
Germinam mentirinhas molengas
E não dizem coisa que preste.
A voz do velho pinheiro na floresta tonitrua,
Troa, troveja, atormenta;
E os pinheirinhos não aguentam,
O desfile de sua burrice, à vista de todos, nua!
Conjuram nuvens de cupins,
Esquadrilhas de pica-paus,
Gralhas e bacuraus,
E criaturas afins.
O velho pinheiro, sobranceiro, de tudo ri-se faceiro,
A tudo afasta sem recato:
Tudo se vai na corrente do regato
E ele segue, invicto, no topo do outeiro.