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Dante

A Oliveira floresce e frutifica
Ao raiar de dois mil e vinte e dois:
Deus em Karol e Alexandre pôs
Amor menino que ninguém explica!

Rosáceo no seio da mãe, estica
Os lábios, suga o leite, ao som da voz
Do primeiro amor; faz de todos nós –
Pai, mãe, tios – servos da fome aflita!

Nas noites claras do bento casal
Co’o cristalino choro diurnal
Nada mais será como era antes!

Pois a vida se redefine, tal
A luz que um filho traz, de Deus sinal:
Seja bem-vindo e bem-amado, Dante!

CPI da COVID-19

Orgulhoso de sua pequenez,
Pratica mais uma bufonaria:
Aquilo que jurou que não faria
Revela ao Senado tudo o que fez.

Horrível carrasco, injusta altivez,
Porta-cadáver da cavalaria:
Desonrado pelo que não diria
Que lhe resta? Um, dois dias? Um mês?

Que sua pena modelar denote
Epílogo das evitáveis mortes,
Despotismo que se esvaia num uivo;

A mão forte da Alta Casa o derrote,
Libertando-nos deste vil garrote
Que nosso solo retinge de ruivo!

Por Senado Federal from Brasilia, Brazil - CPIPANDEMIA - Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia, CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=104919657

Por Senado Federal from Brasilia, Brazil – CPIPANDEMIA – Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia, CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=104919657

 

Odisseu perdido

Calipso - Pintura por Arnold Böcklin

Calipso – Pintura por Arnold Böcklin. Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Arnold_B%C3%B6cklin_008.jpg

 

Afastando meus olhares de Mérope
Em direção ao futuro, sagaz,
Navego o árduo desejo de paz:
Odisseu perdido, só, sem Penélope.

Ensurdecido ao silvo das sereias
Atado ao tronco túrgido e tenaz
Envido a vida tênue e, assaz
Sofrido, rujo um estralo nas cadeias.

Fujo aos dentes aguçados dos Cíclopes,
Fujo à fúria insana dos Lestrigões,
Fujo de Calipso as mortais paixões,
Fujo e resisto aos encantos de Circe.

A tudo escapo porque em minha mente
E corpo não cabem mil corações:
Da vontade eu faço mil torreões
Donde o futuro se vê do presente.

O Gato, o Rato e o Peixe

O Gato sonha com o gordo Rato,
O Rato sonha espancar o Gato.
O Gato sonha com o fresco Peixe,
O Peixe sonha que no mar lhe deixe.

O Gato sonha com filé no prato,
Roubar-lhe sonha o desgostoso Rato.
O Gato sonha do Peixe o aroma,
O Peixe sonha que ele não lhe coma.

Gato, Rato, Peixe, à espera
Do fim na grande cratera:
Sonhos de infindas delícias!

Predadores, presas, todos toleram
À sua moda a violenta e austera
Natureza, a vida e suas sevícias.

Poemas