No tempo em que a eternidade no berço inda vagia
A Fortuna, essa bruxa rancorosa,
No jardim das rosas da Vida
Alcovitou o amor do Enfado com a Vacuidade.
Desse encontro fátuo de uma noite sem amor
De prazer e desprezo,
Nasce órfã de si mesma uma bela nova deusa.
Faminta pelo amor do pai, eterno insatisfeito,
Multiplica as faces, cores, peles e cabelos;
Vestes e calçados e ornamentos a cada olhar transmudam-se;
Sua voz, Música de mil ritmos, melodias e harmonias,
Mal se ouve, já ao vento se desfaz.
Seus lares estão em toda parte,
Do litorais às montanhas, das ilhas aos continentes,
Das florestas aos desertos, dos pântanos às savanas –
E em nenhum deles ela mora,
Pois ao relento, catatônica, devaneia e sonha,
E arquiteta o próximo projeto.
Seus pés navegam pelos ventos
Suspensa pelas asas da Insegurança.
Seus amores não perduram por mais de um segundo…
Seus beijos roçam sem tocar os pretendentes
Provocando insensíveis arrepios de desejo irrefreável.
Correndo, voando, mais célere do que o Amor das
Multidões que se arrastam a beijar seus passos,
Ela, muda, sorri, e transmuda-se novamente,
E ainda mais uma vez.
Feiticeira cruel, dominadora impiedosa,
A mais jovem das deusas pagãs
– Seu nome? Moda! –
Subjuga, escraviza, tortura, domina,
Mas, enlouquecida, não conquista
Sequer um sorriso,
Ou um gesto de carinho,
De seu pai.