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Um sonho de rei

De um sonho de rei em seu trono assentado
A bobo da corte deixado de lado:
As plantas dos pés dilaceram espinhos
De sangue umedecem o pó do caminho.

Frustrado desejo em ferro algemado
Incita inclemente famélicos brados:
Sufocam-se mudos num redemoinho
De brasas que crestam sudários de linho.

Das lágrimas, do suor da meia-noite,
Feridas lancinam as dores do açoite
Inclemente, descartado à própria sorte.

Amanhece a esperança cruel, tão forte,
Mas não permito que o coração se afoite
Pois traz nos ombros de ceifeira a foice.

Coronavac

A esperança de vida se chama
Coronavac!
Medo! Virem jacaré os que amo,
Vá que!

Sôfrego anseio a agulhada bendita
No braço.
Da trilha dorida à sorte desdita
Não passo.

De chineses talentos a Ciência —
Toque de gênio! —
O Brasil se ampara contra a carência
De oxigênio.

À Sinovac meu corpo todo grita
Muito obrigado!
E a Deus peço a indulgência imerecida
A todo o gado!

Esperança

Sentimento, o que transborda e se derrama
Em vinho amargo – fazes de mim tão vivo! –
Nos sonhos acres de meu peito em chamas
À presença do andar altivo
Da Esperança em passos largos, incompatíveis
Com a leveza que se espera de uma dama:
Teus saltos finos se disjuntam nos desníveis
Da estrada espúria alicerçada em lama.

Sentimentos de sucedâneos desprovidos
Sucedem-se, sentidos desalentos
Acasalam-se, e parem mil rebentos,
E povoam o poético espírito falido.
Mas a aurora eleva e renova a alvura
Da paisagem inóspita da vida:
A Esperança novamente desabrida
O véu do abatimento com as mãos perfura.

Esperança e Fé

Esperança: amiga indelével da dor contrita
Cresta do espírito o solo devoluto,
Calca as fímbrias do manto da donzela aflita,
Esgarça a fibra do guerreiro resoluto.

Fé: esposa amantíssima do deleite eterno
Na mansidão febril da certeza e da verdade
Ergue a fronte em desafio ao pós-moderno
E inflama ao rubro, de outros tempos, a saudade.

Na ágora da vida, esperança e fé combatem
Em cada peito; prevalece a cada instante
Ora a dama, ora a santa, terçando ambíguas

As espadas do argumento, tão profícuas,
Tão prolixas em seus verbos adamantes,
Indiferentes a quantos eles matem!

Poemas