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Necrópole

Num final de tarde de umbrosas nuvens
Contra a frigidez ventosa do crepúsculo,
O viandante arrasta o corpo transido.
Trôpego, marcha; suas botas imprimem
Pegadas tímidas na areia seca.
Treme e geme, o capote mais adeja que o protege
Das álgidas lufadas do Meridião.
Segue-lhe os passos solitários
Na estrada do Abandono
Sua sombra, apenas.

Aureolando seus pés
A poalha rebrilha a réstia do sol ocaso
Que teimosamente inda fulgura
sob opressivas nuvens no horizonte.

O marco carcomido pela Fúria
Do tempo e dos elementos,
da vida e de seus tormentos,
Informa:
“NECRÓPOLE — Bem-vindos os mal-avindos”.

E do seu rosto foge a cor
no instante fatal;
E suspira o seu terror
quando cruza o umbral.

 

Efígie

Quem diria que em tão linda mente habita
O fardo cego dum amor tortuoso,
No sono leve, numa cama sem repouso,
O corpo pálido protruso levita.

Sua e treme, sonâmbula, pobre e aflita
Criatura de Deus, só no calabouço,
Presa da voz distante, eco tenebroso,
De feros rostos numas tardes malditas.

A agulha do barômetro cai, honesta
Indicadora de trovões que se abeiram
Do silêncio das águas claras, emprestam

Drama e cor, ares de tragédia, cimeira
Colisão de sonhos, fantasias crestas,
De tudo, nada resta: só uma caveira.

Fobos

Improvável rebento de Amor e Guerra,
Elmo argênteo nos confins do pensamento
Aguilhoa a vontade, exacerba o lamento,
Até dos mais bravos a força soterra.

Granizo da mente, torpor inimigo,
Hesita o guerreiro de trêmula maça:
Pernas infirmes que os pés embaraçam
Apressam seus passos quedando ao jazigo.

No solo onde pisam sandálias de Fobos
Rapinam as areias abutres e lobos,
Regalam-se sádicos livres pendores;

Somente a Esperança opõe-lhe o escudo
E da Fé a lâmina pontiaguda
Derrota sua falange de dissabores.

Poemas