A corrupção moral e intelectual da juventude

Com a queda do Império Romano, os monges e religiosos católicos utilizaram, como principal ferramenta para conversão e civilização dos bárbaros invasores, a educação fundamentada nos princípios das Artes Liberais.

A mentalidade medieval tinha consciência da finalidade última do homem: Deus. Por conseguinte, era essencial uma formação moral e intelectual equilibrada.  A ideia da existência do mal, do livre-arbítrio, da redenção pela cruz e da transcendência era amplamente difundida.

O mestre, na Idade Média, era um exemplo vivo de virtude a ser imitado por seus pupilos. Toda a educação era baseada primeiramente, no caráter virtuoso do mestre. A educação tinha por finalidade a formação completa do ser humano, tanto moral quanto intelectual.

O auge da educação medieval foi a “Escolástica“, representando o último período do pensamento Cristão, que vai do começo do século IX ao final do século XV. A educação ministrada nos mosteiros e escolas das Catedrais foi o que tivemos, no Ocidente Cristão, de mais belo e frutuoso quanto à formação moral e ao desenvolvimento pleno da inteligência.

A formação através das Artes Liberais era essencial para os estudos posteriores de Filosofia, Teologia, Direito Canônico ou Medicina. Santo Agostinho, Cassiodoro e Hugo de São Vítor defendiam que somente com as Artes Liberais seria possível um profundo entendimento dos textos bíblicos, por exemplo.

O apogeu da Escolástica deu-se com os ensinamentos de São Tomás de Aquino e sua contribuição fundamental para conciliar a filosofia Aristotélica com o pensamento Cristão.

Segundo, Ricardo da Costa, “três etapas da recuperação de Aristóteles foram aplicadas tradicionalmente ao desenvolvimento do pensamento cristão no Ocidente, fazendo-as coincidir, mais ou menos, com as da formação da escolástica: A primeira (séculos IX–XI) é uma etapa gramatical, pela qual tanto a Sagrada Escritura quanto o estudo de obras da Antiguidade se explicariam com o estudo da Gramática. A segunda (século XII) é uma etapa dialética, em que a dialética aristotélica foi aplicada à explicação da Sagrada Escritura e dos textos antigos. A terceira (século XIII) foi a filosófica, quando a explicação do dogma cristão foi feita com base na obra completa de Aristóteles (Física, Da Alma, Metafísica).” (1)

A sabedoria consiste em conhecer a ordem das coisas. O sábio investiga a verdade e, a Verdade última e suprema, que é fonte de toda a verdade e de todo o ser, é Deus. Jesus Cristo, Deus feito homem, nos ensinou: “Eu sou a Verdade e a Vida”.  Deus nos deu o dom do intelecto. Devemos usar este dom para melhor conhecê-Lo e amá-Lo, vivenciando as virtudes, a bondade, a beleza do mundo por Ele criado. Este era o princípio da educação medieval.

“O empenho dos escolásticos em pesquisar a Verdade, em estudar e empregar uma grande diversidade de fontes e analisar com precisão  e cuidado as objeções às suas posições, dotou a tradição intelectual medieval de uma vitalidade da qual o Ocidente pode legitimamente orgulhar-se”. (2)

O início do período moderno foi marcado por uma rejeição violenta à Escolástica, principalmente, no que se refere ao Tomismo. Descartes promoveu a ideia da “Filosofia Separada“. Foi também, um dos precursores do movimento racional-científico, considerado o pai do “Racionalismo“. O Racionalismo preconiza que a verdade só pode ser atingida pelo intelecto. A Razão seria a árbitra suprema do verdadeiro e do falso, do bem e do mal. Em lugar de preconizar uma religião positiva, uma arte intuitiva, uma moral religiosa, finalizará logicamente na religião natural (deísmo), na estética natural, na moral natural (Rousseau). O “naturalismo“, que em princípios não difere do racionalismo, propunha na prática a emancipação do homem de Deus, a sua própria deificação. O racionalismo e o naturalismo deram origem ao “liberalismo moderno“.

O liberalismo como definição filosófica se apresenta como um “sistema de liberdade”. Mas uma liberdade anárquica, sem limites, sem moral. Para o liberal, em última instância, a verdade é relativa, é uma construção do indivíduo. A moral liberal tem por objetivo a emancipação total do indivíduo, a sua própria deificação. A liberdade, neste caso, seria um fim em si mesmo.

Um dos maiores propagadores e financiadores dos ideais liberais foi a Maçonaria. A origem desta organização é remota, provavelmente entre o século XIII ou XIV, cujo objetivo inicial era formar uma associação organizada de pedreiros livres para a construção de Catedrais. Mas, em algum momento entre o século XIV e XVIII, nela infiltraram-se os primeiros pensadores liberais que nutriam, particularmente, um ódio profundo à Igreja Católica. Data de 1717 a organização da primeira loja maçônica na Inglaterra com objetivos intrínsecos de promoção dos ideais liberais-revolucionários.

Voltaire, em viagem à Inglaterra, foi iniciado na seita maçônica e jurou dedicar a sua vida à destruição da Igreja e de toda a autoridade (Monarquia Católica). Retornando à França, juntaram-se a ele d’Alembert, Frederico II e Diderot. Juntos, elaboraram e publicaram a “Enciclopédia”, um compêndio de diversos erros liberais.

Voltaire, pessoalmente, cuidou de assumir a educação dos príncipes. Seu objetivo era corrompê-los desde já, para que os futuros reis estivessem imbuídos dos ideais liberais e revolucionários. D’Alembert instituiu o primeiro escritório para formação de preceptores, ou seja, os futuros professores da juventude, tanto os filhos dos nobres, quanto dos burgueses e camponeses. O intuito era a corrupção da moralidade católica.

Frederico II, rei da Prússia, encarregou Voltaire de corromper e perseguir as Ordens Religiosas, a começar pela Companhia de Jesus, que era, dentre todas, a mais temida por eles, tanto por sua força moral, quanto pelos grandes religiosos e intelectuais que difundiam a doutrina da Igreja.   O objetivo último era a aniquilação da Igreja e de toda a Cristandade.

Adam Weishaupt, fundador dos Illuminati, declarou que, para que a corrupção dos jovens fosse possível, a educação ministrada a  eles deveria cobrir um grande número de assuntos, mas sempre de forma superficial. O intuito era atiçar a sua vaidade sem desenvolver toda a sua capacidade de raciocínio, tornando-os facilmente corruptíveis e moldáveis.

Camile Sée criou o primeiro Liceu na França apenas para mulheres. Defendia que, para descristianizar a França, era preciso fornecer uma educação laica para as mulheres, pois seriam elas as mães das novas gerações. Já Francisco Ferrer Guarda, pensador anarquista catalão, criador da Escola Moderna (1901), propunha a “pedagogia libertária”. Seu objetivo era formar uma geração de anarquistas revolucionários.

O que vemos hoje em nossas instituições escolares é a implementação prática desse projeto, em que o laicismo é a regra e, a exceção, as escolas verdadeiramente confessionais.

Os modernos “especialistas em educação” não têm por objetivo a formação intelectual da juventude mas, ao contrário, impossibilitar o desenvolvimento pleno do intelecto, corrompendo a sua moral e transformando-os em meros militantes, em simples “idiotas úteis”.

Ora, o que propõe a nossa “BNCC” se não justamente aplicar uma quantidade excessiva de conteúdos, sempre de modo superficial e desconexo da realidade?  O próprio texto do relatório da BNCC é dotado de um vocabulário ambíguo, em que a “verdade” se torna “relativa”; seu discurso é recheado de ideias e princípios liberais-revolucionários, não tendo outro objetivo se não a “superficialidade” do aprendizado, a degeneração da inteligência, a formação de futuros militantes para a causa revolucionária de sua geração.

Os fatos são claros: estamos nas piores posições no ranking de educação no mundo. A OCDE afirma enfaticamente que, segundo os últimos estudos realizados, “os estudantes escolarizados brasileiros levarão mais de 260 anos para adquirir as habilidades mínimas de leitura e 75 anos para adquirir habilidades matemáticas elementares.” Sim, é fato inegável que nossas instituições escolares produzem “analfabetos funcionais”.  Seria este um crime de “abandono intelectual” propagado em larga escala no Brasil? O que será das próximas gerações e do futuro de nosso país? Devemos nos manter omissos? Qual a responsabilidade e o dever moral dos pais perante a educação e a formação intelectual dos filhos? Esta é uma reflexão é urgente e necessária.

(1 ) História da Filosofia Medieval. Disponível em: https://www.ricardocosta.com/sites/default/files/livros/pdf/web_historia_da_filosofia_medieval.pdf

(2) Jr. Woods, Thomas E. Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental. São Paulo: Quadrante, 2019.

Outras fontes:
Dawson, Christopher. A crise na educação ocidental. São Paulo: É Realizações, 2010.
Delassus, Monsenhor Henri. A conjuração anticristã. Castela, 2016.
Padovani, Humberto. Castagnola, Luiz. História da Filosofia. São Paulo: Melhoramentos, 1961.

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