Nossa visão sobre o ensino da Gramática (1)

Padre Manuel Bernardes. Fonte https://commons.wikimedia.org/

Padre Manuel Bernardes. Fonte https://commons.wikimedia.org/

Entendemos a Gramática não como um “conjunto de regras” que o estudante precisa decorar a qualquer custo, mas como a “Ciência da Beleza na Comunicação”. O domínio da Gramática deve gradativamente habilitar o estudante a “falar e escrever bonito”, isto é, a produzir textos sonoramente agradáveis, intelectualmente claros, expressivamente eficazes, argumentativamente impecáveis, persuasivamente significativos.

Essas qualidades não se conquistam com a memorização de “regras”, mas pela absorção de critérios de beleza, clareza, eficácia, lógica e significado. Por mais que assim o desejem os gramáticos modernos, a conquista da beleza na Comunicação não é possível por meios exclusivamente dedutivos, isto é, “decore e aprenda a aplicar esta regra e você sempre escreverá bonito”. Assim fosse, o texto de quase todas as Gramáticas não seria tão medonhamente “chato”, pomposo, soando como se o autor o enunciasse com um ovo cozido inteiro e quente na boca.

Como bem sabem todos os que ganham a vida escrevendo ou falando em público, um texto, uma frase, até uma palavra “gramaticalmente correta” pode resultar calamitosa no contexto da comunicação real. Há que se considerar o seu efeito sobre o leitor ou ouvinte, decorrente de sua experiência com o tema, sua qualificação intelectual, seus valores, preferências e preconceitos. Um texto, seja escrito ou falado, não é uma simples “exposição do pensamento ou das ideias” do autor, mas uma tentativa de compartilhamento do universo mental do enunciador com o leitor ou ouvinte. Um texto que se limite às “regras gramaticais”, tais como apresentadas nas “Gramáticas” modernas, não oferecerá ao seu autor nenhuma espécie de garantia quanto às suas virtudes comunicativas.

Obviamente, devemos fugir esbaforidos da mentalidade – que empesta nosso país – redutora de toda avaliação sobre a realidade a uma escolha entre opções mutuamente excludentes. Dizer que as “regras gramaticais” não bastam, não significa “ser contra” as regras gramaticais, não é o mesmo que dizê-las inúteis, contraproducentes, repulsivas. Ao contrário: ao dizer que “não bastam”, dizemos também que são “necessárias”, “indispensáveis”, “obrigatórias”, embora não “suficientes”, “bastantes”, “satisfatórias”.

É preciso ir além das “regras gramaticais”, não abandoná-las. Devemos entender o modo como os grandes escritores aplicaram-nas no passado e aplicam-nas hoje, para nos tornarmos capazes de usá-las, nós próprios, nos contextos em que vivemos. Devemos entender as regras gramaticais na profundidade de seu verdadeiro significado, pois só assim estaremos habilitados a criar textos que farão História, cujas soluções linguísticas serão admiradas tanto pelos nossos contemporâneos quanto pelas gerações futuras até que, finalmente, sejam citados como exemplos de boa aplicação das regras ou consagrados como virtuosas exceções às regras até então vigentes.

Vias Clássicas Valorizando o Conhecimento