Benefícios da Educação Clássica (8): Liderança

Conforme salientei no primeiro artigo desta série, o oitavo benefício fundamental da Educação Clássica resulta do seguinte fato: “ao estudar as biografias de grandes personagens da História da Civilização Ocidental, seu filho dotará sua inteligência com a sabedoria das ações, exemplos, estratégias e realizações dos maiores líderes que a Humanidade já produziu, abrindo a possibilidade de que ele próprio se torne um líder em seu campo de atuação profissional, em vez de mero seguidor de ideias prontas”. O que veremos a seguir são alguns fatos e pesquisas que dão sustentação a essa ideia.

Santo Alcuíno de Iorque, conselheiro do Imperador Carlos Magno, fundou o Palácio-escola da Catedral de Aquisgrão no qual eram ensinadas as Sete Artes Liberais.  Fonte:  https://pt.wikipedia.org/wiki/Alcuíno_de_Iorque#/media/File:Raban-Maur_Alcuin_Otgar.jpg

Comecemos reproduzindo a descrição oferecida pela John Adam’s Academy, uma instituição de ensino com sede nos Estados Unidos que atende ao público do jardim de infância ao ensino médio, sobre sua filosofia de “Educação Clássica para a Liderança”:

“De Aristóteles a Montesquieu e de Locke a Adams, grandes indivíduos estudaram outros grandes indivíduos. Um clássico é uma obra que pode ser experimentada diversas vezes e, a cada vez, oferecer algo novo. Um clássico – ou grande livro – tem três qualidades essenciais: grande tema, linguagem nobre e universalidade.

Os clássicos abrem nossos olhos à verdadeira natureza de nosso mundo e conduzem-nos através da divisória que separa uma mente das demais. Eles nos revelam nossa humanidade essencial, sua beleza e seu horror, e sustentam o espelho diante de nossos eus desconhecidos. (…)

Os clássicos nos ensinam a natureza humana. Eles permitem que experimentemos intimamente os grandes erros e sucessos da história da humanidade. O modo como os outros pensam, sentem e agem permite-nos a previsão do comportamento e ajuda-nos a desenvolver empatia, compaixão e sabedoria em nossos relacionamentos com os outros.

Os clássicos põem-nos frente a frente com a grandeza. À medida que estudamos os personagens, reais ou fictícios, nos clássicos, inspiramo-nos em sua grandeza, o que é o primeiro passo para tornarmo-nos grandes.

Nos clássicos, experimentamos os personagens mais profundamente do que na vida real porque o autor permite-nos enxergar os seus pensamentos, sentimentos, razões e consequências das escolhas de seus personagens. Os clássicos forçam-nos a silenciosamente estudar, ponderar, analisar, pensar, questionar, descobrir, chorar, rir, lutar e, acima de tudo, sentir, mudar e tornar-se”.

Em que pese tratar-se de um texto de marketing destinado a captar alunos para a instituição, ele descreve minuciosamente a exata impressão de todas as pessoas que se aproximam seriamente dos textos clássicos. É como se uma venda caísse dos olhos e a pessoa começasse, finalmente, a entender o que antes a confundia, a diferenciar o que antes parecia igual, a prever consequências das ações humanas onde os outros veem apenas a mão do acaso.

Mas por mais verdadeira que seja uma descrição poética, os dados empíricos sempre devem ocupar a posição de maior relevo. Afinal, estamos falando do tema mais importante do mundo: o futuro de nossos filhos.

Em 2010, foi publicado pela Concordia University (EUA), um grande estudo empírico1 para medir o desempenho dos estudantes em escolas luteranas americanas. O motivo da pesquisa foi relatado pelos autores nos seguintes termos: “À medida que mais e mais escolas luteranas avaliam a ideia de adotar uma abordagem clássica em suas escolas, pais, conselhos escolares, professores e administradores apresentavam numerosos questionamentos não somente sobre o que torna ‘clássica’ uma escola, mas também desejavam se essa abordagem produziria resultados”.

Para que não restem dúvidas sobre a definição de “educação clássica” adotada no estudos, os autores assim a descrevem: “O modelo de educação clássica era baseado no trivium da Gramática, Lógica e Retórica; o Latim também era ensinado”.

Assim, os autores compararam o desempenho dos estudantes em escolas luteranas regulares com os de estudantes de escolas luteranas que adotaram o modelo clássico. Os padrões foram comparados com a média nacional em termos de Leitura, Linguagem e Matemática. Os resultados globais podem ser vistos na figura a seguir (as escolas de modelo clássico estão representadas em azul claro e, as de modelo “moderno”, em vermelho):

Comparação do desempenho dos estudantes sob educação clássica com os de educação não clássica.

Esse resultado surpreendeu até mesmo o autor da pesquisa. Enquanto o desempenho dos estudantes em escolas regulares foi superior ao das crianças nas escolas de orientação clássica até a 3ª grade (8 anos de idade), na 4ª grade (9 anos) o desempenho se iguala e a partir da 5ª grade (10 anos) o desempenho dos estudantes sob o método clássico cresce vertiginosamente enquanto o dos estudantes que seguem o currículo normal cai contínua e consistentemente. Embora o pesquisador admita não saber explicar o motivo do desempenho inferior nos primeiros anos, ele observa o seguinte: “Deve-se notar que a maioria das escolas que adotam a abordagem clássica não iniciavam o estudo do Latim até à terceira, o que possivelmente explica porque suas pontuações prosseguiram evoluindo firmemente até superar o das escolas não-clássicas na quarta grade”.

O autor da pesquisa também se diz surpreso com o fato de que as crianças em escolas clássicas tiveram desempenho superior em todas as disciplinas, inclusive em Matemática, e não apenas nas disciplinas ligadas à linguagem.

Porém, quem conhece a prática da Educação Clássica não se surpreende com nenhum dos dois resultados. Primeiro: é perfeitamente compreensível o desempenho mais fraco nos anos iniciais, isto é, do jardim de infância ao 3º ano. No modelo clássico, esses são os anos de assentar fundamentos. A progressão é mais lenta, enquanto a criança acumula fatos em sua memória e recebe o treinamento básico para uma vida inteira de estudos, não somente para “obter notas nas provas” e “passar de ano”. Esses 3 anos iniciais equivalem à acumulação de energia para obter o impulso necessário para a largada numa corrida. Os métodos modernos constroem seu “marketing” com base nos resultados precoces, que enchem os olhos de pais e professores, mas que, como demonstra a curva de desempenho, não se sustentam a longo prazo: com apenas 13 anos de idade, as crianças educadas pelos modelos modernos já estão sofrendo uma desvantagem praticamente insuperável em relação às crianças classicamente educadas.

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Quanto ao desempenho em Matemática, o autor do estudo sugere que, talvez o ensino do Latim não seja o fator preponderante. Não é o que relata Napoleão Mendes de Almeida na introdução de sua “Gramática Latina”2:

“Chegados ao Brasil três eminentes matemáticos de renome internacional (…) cuidaram, logo após os primeiros meses de aula, de enviar um ofício ao então ministro da Educação que, na época, cogitava de reformar o ensino secundário: (…)

‘Ficamos admirados com o cabedal de fórmulas decoradas de matemática com que os estudantes brasileiros deixam o curso secundário, fórmulas que, na Itália, (…) são ensinadas só no segundo ano da faculdade; ficamos, porém, chocados com a pobreza de raciocínio, com a falta de ilação dos estudantes brasileiros; pedimos a vossa excelência que na reforma que se projeta se dê menos matemática e mais latim no curso secundário, para que possamos ensinar matemática no curso superior”.

 

O prof. Napoleão Mendes de Almeida cita ainda, na sequência da exposição anterior, uma frase de renomado professor: “Dê-me um bom aluno de latim que farei dele um grande matemático”.
Ou seja, não é desconhecido o papel do ensino do latim sobre o desenvolvimento do raciocínio matemático. Esse papel foi apenas “esquecido” com o seu abandono pelas escolas tradicionais.
Voltando ao tema da liderança, concluímos que a Educação Clássica, em seu conjunto, realmente se destina a formar líderes. O primeiro sinal dessa liderança é diretamente mensurável em termos de desempenho intelectual acima da média das pobres crianças educadas em modelos modernos, intensamente promovidos por campanhas de marketing e propaganda, mas cujos resultados não se sustentam a longo prazo. Ao comparar as curvas azul e vermelha no gráfico da pesquisa de Splittberger, é inevitável concluir que mais crianças integrantes da curva azul tenderão a ocupar postos de liderança em suas carreiras profissionais do que as da curva vermelha, grande parte das quais ficarão condenadas a posições subalternas na hierarquia das organizações que vierem a integrar.

1SPLITTGERBER, Anthony B. The Effects of Classical Education on Achievement in Lutheran Schools. A Research Project Presented to Concordia University, Nebraska, Bernard Tonjes, Ph.D., Project Advisor, May 16th, 2010.

2ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Latina. São Paulo: Saraiva, 2005, 29ª edição.

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