Esperança

Sentimento, o que transborda e se derrama
Em vinho amargo – fazes de mim tão vivo! –
Nos sonhos acres de meu peito em chamas
À presença do andar altivo
Da Esperança em passos largos, incompatíveis
Com a leveza que se espera de uma dama:
Teus saltos finos se disjuntam nos desníveis
Da estrada espúria alicerçada em lama.

Sentimentos de sucedâneos desprovidos
Sucedem-se, sentidos desalentos
Acasalam-se, e parem mil rebentos,
E povoam o poético espírito falido.
Mas a aurora eleva e renova a alvura
Da paisagem inóspita da vida:
A Esperança novamente desabrida
O véu do abatimento com as mãos perfura.

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