Necrópole

Num final de tarde de umbrosas nuvens
Contra a frigidez ventosa do crepúsculo,
O viandante arrasta o corpo transido.
Trôpego, marcha; suas botas imprimem
Pegadas tímidas na areia seca.
Treme e geme, o capote mais adeja que o protege
Das álgidas lufadas do Meridião.
Segue-lhe os passos solitários
Na estrada do Abandono
Sua sombra, apenas.

Aureolando seus pés
A poalha rebrilha a réstia do sol ocaso
Que teimosamente inda fulgura
sob opressivas nuvens no horizonte.

O marco carcomido pela Fúria
Do tempo e dos elementos,
da vida e de seus tormentos,
Informa:
“NECRÓPOLE — Bem-vindos os mal-avindos”.

E do seu rosto foge a cor
no instante fatal;
E suspira o seu terror
quando cruza o umbral.

 

Poemas