O aniversário do Tempo (poema de Ano Novo)

Hoje é o aniversário do Tempo:
Primicério da existência
Impera sobre a florescência
E toda juvenília
O seu toque encarquilha.
Ao roçar de uma pena em provectos incunábulos
Grava num retábulo
O que fizeste em párvulos
Instantes pretéritos imberbes
E, neles, te embebes,
Tu que ora te cognominas
Barbaças macróbio
Decano cenóbio
Com alma de menino.

No aniversário do Tempo
Cede a vez o juvenescente
Ao senescente;
O exubério
Ao climatério:
À cuna torna o patriarca
Cujo túmulo demarca
E no bibeiro embriaga
Com o leite da canície
As lembranças aziagas
Dos anos de puerícia.

Hoje, aniversário do Tempo,
Abre tuas portas à anciania
E nada temas da caducidade:
Pois conheceste a meninia
E as dores da mocidade;
Os babadores e cueiros,
Suas formas, cores e cheiros,
Não te trazem novidade,
E toda vida é uma vela
De procissão em mãos pucelas:
Conquanto dure até o sênio,
Cedo livre do proscênio
Teu nome é sol-posto
Que não mais sorri nos rostos.

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