Alexei Gonçalves de Oliveira

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Esperança

Sentimento, o que transborda e se derrama
Em vinho amargo – fazes de mim tão vivo! –
Nos sonhos acres de meu peito em chamas
À presença do andar altivo
Da Esperança em passos largos, incompatíveis
Com a leveza que se espera de uma dama:
Teus saltos finos se disjuntam nos desníveis
Da estrada espúria alicerçada em lama.

Sentimentos de sucedâneos desprovidos
Sucedem-se, sentidos desalentos
Acasalam-se, e parem mil rebentos,
E povoam o poético espírito falido.
Mas a aurora eleva e renova a alvura
Da paisagem inóspita da vida:
A Esperança novamente desabrida
O véu do abatimento com as mãos perfura.

Montanha

Dos ventos e dos tempos às vicissitudes
Ela dedica indiferença sobranceira…
Assurgente vértice vivo da fronteira
Donde descaem alvos fumos nos taludes…

Escalo as encostas frias e amiúde
Falseiam-me os pés, rolo pelas ribanceiras:
Arrastado por avalanches financeiras,
Inda assim não faço de mim um Robin Hood.

Se do sucesso a prata não é atestado
É nas escolhas que se demonstra honrado
O homem que se desprende do alfeizar

E em queda livre sucumbe aos pés do Estado
E nas planícies plana aos ventos de tornados
E das depressões decola, e aprende a voar!

Cidade

Árvores ardem
Retortas raízes
Solo salino
Dentadas dendrias
Ramos raivosos
Troncos trançados
Mordentes muralhas
Flamante floresta!

Estático estuque
Concreto cretáceo
Líquor limoso
Metálico metro
Asmático asfalto
Fumígena flora
Decora devora
Cinérea cidade!

Túmulo túrgido
Ímpia ínfima
Via vital
Frágeis frêmitos
Diversões desvalidas
Ominosos ônibus
Criminosos cremam
Húbris urbana!

Deimos

Sombra de Fobos, seu gêmeo,
Serpeiam olhos de Deimos.
Quando descuida-se a presa
Ele investe de surpresa:
Dispara, alveja, detona,
Dos bravos despe as dragonas;
Mata velhos e crianças,
Finda vidas e esperanças.
Dos atos sempre covardes
Castigos chegam tão tarde.
Desconsolo das famílias
Assombra o sono e a vigília:
Recorrentes pesadelos,
Emoções em atropelo,
Pavores multicromáticos,
Dores de stress pós-traumático.
Tudo que é mal se avista,
Quando com Deimos se alistam,
Fanáticos terroristas:
Braços da Morte,
Clavas de Deimos,
O Terror.

Inteligência

Forças da natureza, irresistíveis;
Avalanches, erupções vulcânicas,
Furacões e tornados, ventos irascíveis,
Enchentes e tormentas oceânicas,
Terremotos e incêndios florestais,
Frentes frias e ondas de calor,
Nevascas e auroras boreais,
Noites claras pelo fulgor
Irresistível dos raios
Vulcânicos nos vapores sulfúreos
Irascíveis que ascendem da rocha em
Oceânico fluxo de lava, incandescendo
Florestas reduzidas a fósseis carbonos pelo
Calor estorricante;
Boreal
Fulgor nas paisagens gélidas do pensamento:

Seja assim tua inteligência
Ao defrontar-se com canalhas.

Fobos

Improvável rebento de Amor e Guerra,
Elmo argênteo nos confins do pensamento
Aguilhoa a vontade, exacerba o lamento,
Até dos mais bravos a força soterra.

Granizo da mente, torpor inimigo,
Hesita o guerreiro de trêmula maça:
Pernas infirmes que os pés embaraçam
Apressam seus passos quedando ao jazigo.

No solo onde pisam sandálias de Fobos
Rapinam as areias abutres e lobos,
Regalam-se sádicos livres pendores;

Somente a Esperança opõe-lhe o escudo
E da Fé a lâmina pontiaguda
Derrota sua falange de dissabores.

Rejeição

Mentiria se dissesse que tua recusa me é indolor;
Que a frialdade de tuas missivas não me enregela;
Que teu desdém não me afoga em vagas de procela;
Que meu rosto irado e triste não evanesce em rubor.

Jamais direi que de teu louvor não necessito,
Que teu aplauso não incensa meus sonhos,
Que não arde o meu velho coração bisonho,
Que não me prostro em inerme adoração ao mito.

Abanas-me como a incômodo inseto;
Humilhas-me enquanto manténs secreto
O motivo pérfido por que me ignoras:

Desdém, calúnia e tripúdio,
Tríade em promíscuo conúbio,
Que me tortura no correr das horas!

A Romântica lira de chumbo

Lira? Que lira?
Minha poesia é uma guitarra elétrica
Distorcida estridente na luz feérica
Dum palco onde tudo reluz e gira
Para deleite da plateia
Que sua as tachas, o couro, o brim,
Punhos cerrados num uivo sem fim,
Ferazes lobos da alcateia
Dos rudes guinchos de pneus no asfalto
Quente do stress urbano
Poluente do devir humano
Ensurdecido por tais sons, tão altos!

Meus versos não cantam: são gritos melódicos,
Trêmulos vibratos no registro grave
Do contrabaixo em ressoante cave,
Reverberante riff caçador metódico
Do bracabraque da bateria:
Amplificadores em tão alto volume
Ribombando as caixas de áureo negrume
Que de um Titã os tímpanos se romperiam!

Sou um Romântico, mas não um romântico
Que canta amores de bar e motel:
Sou um Romântico de alma quântica,
Sou um Romântico heavy metal!

Dreapta Măsură | (tradução) A justa medida

Dreapta Măsură

(Emil Cioran)

A justa medida

(Tradução por Alexei Gonçalves de Oliveira)

Un pic de durere te face profund,
Mai multă durere te-afundă prea mult.
C-un pic de avere n-ai lipsuri în casă,
Cu multă avere n-ai somn şi te-apasă.

Un pic de-mplinire te face mai bun,
Prea multă împlinire te face nebun.
Un pic de putere te face mai tare,
Prea multă putere pe alţii îi doare.

C-un pic de respect eşti încrezător,
Cu prea mult respect devii sfidător.
Un pic de-ngrijire te ţine mai bine,
Prea multă îngrijire-i o hibă-n gândire.

C-o slujbă, desigur, ai pâine pe masă,
Dar dacă ai zece, n-ai masă, n-ai casă.
Păstrează, creştine, măsura în toate,
Deloc nu e bine, iar prea mult te-abate
Încet, dar şi sigur de la pocăinţă
Şi te pricopseşte c-o altă credinţă.

Um pouco de dor faz de ti mais profundo
Mas dor excessiva só leva-te ao fundo.
Com poucos haveres, nada falta em casa,
Com muitos o sono oprimido bate asas.

Um pouco que imprimes te faz bem melhor,
Mas o muito imprimir é enlouquecedor.
De poder um nadica ao alto te eleva,
Poder em excesso aos outros entreva.

Com pouco respeito, és mais confiante,
Com muito respeito, és desafiante.
Se alguma ajuda mantém-te melhor,
Excesso de ajuda confunde o pendor.

C’um emprego, claro, tens pão sobre a mesa,
Se tens dez empregos, nem casa, nem mesa.
Mantém, cristandade, medida em tudo,
Se o nada é mau, o muito te abate, contudo,
Lentamente, mas é seguro o remorso
E com outra fé comprometes-te e a endossas.

O Assunto

Que assunto deseja o bestunto
No festim das mesas de botequim?
Quimeras nas salas de espera,
Verdades tíbias que derretem nas mídias
E fedem.

Do assunto festejam as mídias
As tíbias quimeras das mesas de botequim,
Enquanto esperas, bestunto, no festim das salas,
Verdades que fedem do que desejas
E derretem.

E enquanto tíbio esperas bestunto na mesa
Quimeras que fedem ao festim da mídia –
Verdades de botequim –
Derretem nas salas
O assunto.

Da mídia nas mesas das salas
Esperas festim de verdades bestuntas –
Assuntos para o botequim –
Fétidas, derretidas, tíbias,
Quimeras.

Poemas