Quando paro de procurar

Eis que tudo se torna
sensivelmente mais fácil
quando cesso a caça
por aplauso e riso;
e – observe a coincidência! –
eis que eles surgem,
sibilantes consequências
do que faço e penso
sem ao que ao menos pense nisso!

O Analista Político

Narro o rebentar das ondas políticas
Com os pés enfiados na areia
Esperando mantê-los secos.

Ato-me ao mastro da nau das críticas
Surdo ao encanto das sereias:
Só dos fatos ressoo os ecos!

Leio mentiras em mantos de análises,
Vis e descaradas notícias,
Discursos disfarçam trapaças.

Do licor indignante sorvo cálices:
Aos poderosos, as carícias,
Aos eleitores, as caraças!

… ao Brasileiro!

Brasileiro, ergue por um átimo tuas ventas
do pó ao qual retornarás,
Lança ao fogo do esquecimento
as mazelas nacionais,
as lamentações infindas,
Finge – isto que fazes tão bem!
– não afligir-se da sobrevivência,

O alimento em grande estoque, as contas pagas,
corpo nutrido em abundância,
conforto e exuberância,
ostentação e luxo, tudo isto
Finge já os possuir e, ao espelho, indaga
com o ar de enfado dos bem nascidos:
– Que faço agora que de nada
mais posso me queixar?

Responde. E faze-o.

Eleva tua alma, brasileiro;
Ausculta a música da eternidade,
Extasia-te no ouzo das letras do universo,
Deságua lágrimas n’airosas visagens:
Das procelas econômicas, poesia;
Das insídias governamentais, peças de teatro;
Das misérias sociais, venustas paisagens;
Das almas corruptas, contos de virtudes,
Romances de valores, poemas heroicos
E quadrinhos de super-heróis.

Erros

Elas mesmas que bafejam
aragens de eufemismos
insinuando os erros próprios;

Elas mesmas que trovejam
Tumultuosas tormentas
tonitruando os teus!

“Success is counted sweetest” (tradução)

“Success is counted sweetest”

(Emily Dickinson)

O sucesso canta mais doce

(trad. Alexei Gonçalves de Oliveira)

SUCCESS is counted sweetest
By those who ne’er succeed.
To comprehend a nectar
Requires sorest need.

Not one of all the purple host
Who took the flag to-day
Can tell the definition,
So clear, of victory,

As he, defeated, dying,
On whose forbidden ear
The distant strains of triumph
Break, agonized and clear.

O sucesso canta mais doce
Na boca do fracassado.
A compreensão de tal néctar
Requer a dor do necessitado.

Nenhum em meio às hostes púrpuras
Que hoje erguem o estandarte
Tão claramente definirá
A vitória

Quanto ele, derrotado, moribundo,
Em cujo ouvido interdito
Longínquas odes ao triunfo
Rebentam cristais de agonia.

Olavo de Carvalho

Nas ideias brindaste a solidão:

Das estéreis, mortas inteligências,

Ferem-te o opróbrio e a demência,

Dos compatriotas – nossos irmãos!

 

De teu curso fizeste lenitivo:

Santo remédio para almas canhotas,

Doce unguento para as mentes cambotas,

Letárgicas, do imbecil coletivo!

 

Censuras vis e magras como óbolos

Esputam hereges da Nova Era:

Estertoram – vermes! – na lama a inveja,

 

Da sublimidade fazem quimeras,

Escarnecendo das palavras régias,

Pois que – ora veja! – foste um dia astrólogo!

Esperança e Fé

Esperança: amiga indelével da dor contrita
Cresta do espírito o solo devoluto,
Calca as fímbrias do manto da donzela aflita,
Esgarça a fibra do guerreiro resoluto.

Fé: esposa amantíssima do deleite eterno
Na mansidão febril da certeza e da verdade
Ergue a fronte em desafio ao pós-moderno
E inflama ao rubro, de outros tempos, a saudade.

Na ágora da vida, esperança e fé combatem
Em cada peito; prevalece a cada instante
Ora a dama, ora a santa, terçando ambíguas

As espadas do argumento, tão profícuas,
Tão prolixas em seus verbos adamantes,
Indiferentes a quantos eles matem!

Gonçalves Dias

Tua terra tem mil coisas

de que não podes te orgulhar,

Ou foste tu que ensinastes

às aves, o gorjeio,

ou o canto, ao sabiá?

 

Ou com tuas mãos plantastes

As palmeiras ou, nas várzeas,

As flores;

 

Ou, no céu, engastastes

As estrelas,

Ou, nos bosques, as tais vidas –

Ou, nas vidas,

Tais amores?

 

Gonçalves Dias,

Teu prazer com tais primores,

Ao mundo não aproveitará;

Dos desfrutes teus,

Das arredias e noturnas cismas tuas,

Permite, sim, a morte, Deus;

Imortais apenas as canções

que no exílio da alma compuseste:

Todas muito mais belas

do que o canto do sabiá.

Poemas