Os oito benefícios fundamentais da Educação Clássica

Quais são os benefícios da Educação Clássica? O que o seu filho ganhará caso você adote, em sua Educação, os princípios, conteúdos e métodos clássicos de ensino? Afinal, será que a formação puramente técnica e científica não bastará para que seu filho obtenha sucesso profissional na vida adulta? Este artigo é o primeiro de uma série em que responderemos a essas e outras questões e demonstraremos que é um erro privar o seu filho do acesso a toda essa imensa herança cultural recebida de nossos antepassados.

Filosofia e As Sete Artes liberais. Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Hortus_Deliciarum,_Die_Philosophie_mit_den_sieben_freien_Künsten.JPG

Filosofia e As Sete Artes liberais. Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Hortus_Deliciarum,_Die_Philosophie_mit_den_sieben_freien_Künsten.JPG

Regime militar: sai a Educação Clássica, entra a formação profissionalizante

Devemos começar salientando que, até o final da década de 1960, a Educação Clássica era parte integrante do sistema educacional brasileiro. Pelo que pudemos aferir em nossas pesquisas de material didático desde o início do século XX, todos os estudantes recebiam pelo menos alguns conteúdos clássicos e científicos durante o período que então se chamava “ginasial” – cronologicamente equivalente ao atual “Fundamental 2”, isto é, entre os 11 e os 14 anos de idade. Já no período que hoje chamamos de “Ensino Médio”, entre 15 e 17 anos de idade, o estudante tinha a opção de escolher entre seguir um programa de estudos Clássicos ou Científicos.

Na Lei Orgânica do Ensino Primário (Decreto-lei 8529/1946) , discriminava-se os seguintes conteúdos para a Educação de crianças a partir de 7 anos de idade:

Art. 7º O curso primário elementar, com quatro anos de estudos, compreenderá:
I. Leitura e linguagem oral e escrita.
II. Iniciação matemática.
III. Geografia e história do Brasil.
IV. Conhecimentos gerais aplicados à vida social, à educação para a saúde e ao trabalho.
V. Desenho e trabalhos manuais.
VI. Canto orfeônico.
VII. Educação física.

Art. 8º O curso primário complementar, de um ano, terá os seguintes grupos de disciplinas e atividades educativas:
I. Leitura e linguagem oral e escrita.
II. Aritmética e geometria,
III. Geografia e história do Brasil, e noções de geografia geral e história da América;
IV. Ciências naturais e higiene.
V. Conhecimentos das atividades econômicas da região.
VI. Desenho.
VII. Trabalhos manuais e práticas educativas referentes às atividades econômicas da região.
VIII. Canto orfeônico.
IX. Educação física.
Parágrafo único. Os alunos do sexo feminino, aprenderão, ainda, noções de economia doméstica e de puericultura.

Observe como já no período do ensino “primário” é observável a influência de conteúdos clássicos que, no período ginasial, surgem ainda mais fortemente, no Decreto-lei 4244 de 9 de abril de 1942:

Art. 10. O curso ginasial abrangerá o ensino das seguintes disciplinas:
I. Línguas:
1. Português.
2. Latim.
3. Francês.
4. Inglês.

II. Ciências:
5. Matemática.
6. Ciências naturais.
7. História geral.
8. História da Brasil.
9. Geografia geral.
10. Geografia do Brasil.

III. Artes:
11. Trabalhos manuais.
12. Desenho.
13. Canto orfeônico.

Em 1971, já em pleno regime militar, o governo do general Emílio Garrastazu Medici instituiu a Lei 5.692 para fixar “Diretrizes e Bases para o Ensino de 1º e 2º Graus”. Essa lei mudou toda a organização do ensino básico em nosso país, muito além da mera alteração na nomenclatura. Tomando por base uma visão tecnocrática de origem positivista, o ensino de “2º grau” adotou como objetivo primordial a formação profissionalizante, orientada para o mercado de trabalho. Todas as escolas foram obrigadas a transformar-se em cursos técnicos, ao escolher entre um “cardápio” com mais de 100 habilitações, que variavam desde auxiliar de escritório até técnico em agropecuária. Ao final do 2º grau, o estudante receberia um certificado de formação profissional, legalmente reconhecido, que o habilitaria a entrar para o mercado de trabalho. A ideia era que o ensino de “2º grau” se fosse “terminativo”, isto é, que habilitasse o jovem para o mercado de trabalho sem necessidade de frequentar uma faculdade.

Com essa mentalidade, a formação clássica e científica perderam espaço entre nós. Os militares, entusiasmados com o chamado “milagre econômico” brasileiro – industrialização acelerada e crescimento vertiginoso do PIB – consideravam que o país precisava de trabalhadores técnicos para atender à demanda crescente da indústria. Para isso, nas palavras do ministro da Educação Jarbas Passarinho na mensagem que enviou ao Congresso Nacional junto com o projeto de lei, era indispensável “abandonar o ensino verbalístico e academizante para partir, vigorosamente, para um sistema educativo de 1º e 2º grau voltado às necessidades do desenvolvimento”. Segundo o ministro, a intenção era “dar terminalidade à escola de 2º grau, formando os técnicos de nível médio de que têm fome a empresa privada e a pública”.

O projeto recebeu diversas emendas. A mais notável – e, como veremos ruinosa – foi a do deputado Bezerra de Mello (Arena-SP) que excluía das escolas a opção pelo ensino de estudos gerais e determinava como objetivo único da formação em nível de 2º grau a habilitação profissional. A justificativa do preclaro deputado foi uma verdadeira pérola:

“É necessário fechar de uma vez por todas as portas das escolas ao ensino verbalístico e academizante, que não forma nem para o trabalho nem para a vida. A alternativa ‘ou aprofundamento de estudos gerais’ seria a grande brecha por onde resvalariam as escolas e os sistemas avessos à formação profissional do jovem”.


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Programa de Composição Clássica Ano I: Domínio da Leitura e da Escrita.


Educação Clássica: os objetivos esquecidos

Quase 50 anos nos separam da lei 5692/71. Se você tem filhos em idade escolar, certamente recebeu sua formação básica em escolas já amputadas da opção de oferecer formação geral, através dos Estudos, Conteúdos e Métodos Clássicos. Por isso, hoje, é fundamental responder tão detalhadamente quanto possível à série de perguntas com que abrimos este artigo, esclarecendo porque a Educação Clássica não se reduz a mero “verbalismo academizante”, mas representa um caminho comprovado, testado através de milênios, para desenvolver a inteligência e formar líderes efetivamente capazes de entender a realidade, de compreender os reais problemas que afetam o nosso país, bem como de formular e implementar propostas de solução para esses problemas.

Hoje é fácil perceber que, ao excluir os elementos de Educação Clássica do ensino escolar, criou-se um vácuo na Educação formal em termos de valores, tradições e símbolos, que não poderia resultar senão em sua substituição por ideologias revolucionárias que preconizam o vilipêndio do passado, a rejeição integral de nossa História, de nossa Tradição, de nossa Religião e, portanto, de toda a nossa civilização. Vivemos, hoje, num ambiente em que os jovens formados em nossas escolas rejeitam, desprezam e odeiam visceralmente a civilização e o país a que pertencem, devido ao amplo desconhecimento das ideias, méritos, conquistas, dificuldades e atos heroicos que nos trouxeram até aqui.

Por isso, pontuamos aqui como primeiro benefício fundamental da Educação Clássica o amor a si mesmo, a seu povo, a seu país e à sua civilização. Ao oferecer a seu filho o acesso aos conteúdos clássicos excluídos das escolas por uma visão meramente “profissionalizante” ou, pior, “ideológica”, da Educação, você possibilitará que ele desenvolva em seu coração a estima pela sua herança cultural, o que desembocará naturalmente em autoestima reforçada, pois ele entenderá que sua vida é um capítulo da Grande História de sua civilização. A Educação Clássica, nesse sentido, desafia diretamente a chamada “Educação Progressista”, que se concentra em condenar o passado, ignorando suas virtudes e contribuições e, consequentemente, induz o jovem a uma deprimente autodepreciação. O seu filho entenderá que a busca do conhecimento não pode divorciar-se da aquisição de valores e virtudes, bem como do desejo de contribuir para o Bem Comum.

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O segundo benefício fundamental da Educação Clássica é que ela fornece aos estudantes as ferramentas que os habilitarão a tornar-se seus próprios professores ao longo de suas vidas. Este é um ponto fundamental, dado o fato de que um dos resultados funestos desse ensino puramente “profissionalizante” foi tornar a maioria dos cidadãos completamente dependente de “cursos” e “diplomas” para aprender o que necessitam, revelando incapacidade de pesquisar, planejar, organizar e desenvolver por seus próprios meios um programa de aprendizagem.

Um terceiro benefício fundamental da Educação Clássica é a formação de um agudo discernimento sobre quais informações, ideias e conteúdos são benéficos para sua mente e seu caráter e quais são debilitantes. Diante de um universo inesgotável de fontes de conhecimento, seu filho saberá rapidamente selecionar o que lhe é conveniente e excluir tudo o mais.

O quarto benefício fundamental da Educação Clássica é que ela provê uma visão de conjunto sobre o conhecimento. O estudante aprenderá a reconhecer os princípios gerais por trás das informações específicas, fugindo à proverbial situação do “especialista que sabe tudo sobre o nada, e não muita coisa além disso”. Segundo o educador americano Richard Weaver, os acadêmicos que receberam Educação Clássica atingem posição central em seus campos porque dominam princípios, enquanto os especialistas com formação puramente técnica adquirem apenas “fatos e habilidades”, tornando-se incapazes de formular uma síntese de validade geral a partir dos fatos que têm diante de si.

O quinto benefício fundamental da Educação Clássica é o entendimento de que toda realidade que nos cerca tem origem nas ideias de gregos antigos, posteriormente refinadas pelos romanos e pela Igreja medieval. Sem o estudo dos autores gregos e romanos, não é possível entender o valor da Democracia, o funcionamento das leis que regem nossas vidas ou o real valor das obras literárias e artísticas produzidas em nosso tempo.

O sexto benefício fundamental da Educação Clássica é o desenvolvimento contínuo da memória e do raciocínio: em uma palavra, da inteligência. O estudo da Gramática, da Lógica e da Retórica é mais do que um método ou um conteúdo, mas um programa orientado para desenvolver ao máximo a inteligência potencial do estudante.

O sétimo benefício fundamental da Educação Clássica é que, ao contrário da “educação terminativa” em nível de ensino médio vislumbrada pelos formuladores de nosso atual sistema educacional, o seu filho perceberá que a Educação é um processo que jamais se completa. Não importando a quantidade ou qualidade da informação a que tenha sido exposto, seu filho entenderá que todo conhecimento é limitado e que o aprendizado é uma busca que jamais se finaliza.

O oitavo benefício fundamental da Educação Clássica é que, ao estudar as biografias de grandes personagens da História da Civilização Ocidental, seu filho dotará sua inteligência com a sabedoria das ações, exemplos, estratégias e realizações dos maiores líderes que a Humanidade já produziu, abrindo a possibilidade de que ele próprio se torne um líder em seu campo de atuação profissional, em vez de mero seguidor de ideias prontas.

Concluímos ressaltando que nada temos contra a formação técnica e profissionalizante em si mesma. Muitas pessoas, com a graça de Deus, são vocacionadas para esse tipo de atividade, preferindo a qualquer outro o ambiente de uma oficina ou laboratório onde possam realizar coisas maravilhosas para o bem de todos. O que não concordamos é com a exclusão da formação clássica já na infância, antes que a criança tenha a oportunidade de descobrir qual sua real vocação, privando-a dos meios de desenvolvimento da inteligência indispensável ao seu bom desempenho em qualquer profissão que venha a abraçar.

Índice de artigos desta série:

Vias Clássicas Valorizando o Conhecimento