Benefícios da Educação Clássica (1) – Pertencimento

No primeiro artigo desta série sobre os benefícios da Educação Clássica, concedemos destaque, na posição de primeiro benefício fundamental, “o amor a si mesmo, a seu povo, a seu país e à sua civilização… A estima pela sua herança cultural… desembocará naturalmente em um reforço de sua autoestima decorrente do entendimento de que sua vida é um capítulo da Grande História de nossa civilização”. Neste artigo, desenvolveremos um pouco mais detalhadamente esse tema sob a perspectiva das pesquisas sobre a Psicologia do Pertencimento (em inglês, “sense of belonging”) às quais acrescentaremos algumas reflexões de ordem pessoal, com base em experiências e observações.

Mapa Histórico dos Lusíadas e Personagens Importantes na História Ocidental: você se sente que pertence a esta herança cultural?

De início, precisamos compreender que a sensação de “pertencimento”, isto é, sentir-se acolhido e aceito como parte de um grupo é uma necessidade humana básica, intrínseca, definidora do ser humano, como já observava Aristóteles em sua “Política” (p. 38):

“O homem é, por sua natureza, como dissemos desde o começo ao falarmos do governo doméstico e do dos escravos, um animal feito para a sociedade civil. Assim, mesmo que não tivéssemos necessidade uns dos outros, não deixaríamos de desejar viver juntos. Na verdade, o interesse comum também nos une, pois cada um aí encontra meios de viver melhor. Eis, portanto, o nosso fim principal, comum a todos e a cada um em particular. Reunimo-nos, mesmo que seja só para pôr a vida em segurança”.

A necessidade de pertencimento tem um longo histórico de pesquisas no campo da Psicologia, sendo referida de diferentes formas por diferentes pesquisadores: “necessidade de afeição”, “necessidade de imagem positiva”, “pertencimento”, “motivação para a afiliação” e “necessidade de relacionamento”. Seja qual for o nome adotado, a sensação de pertencimento está diretamente relacionada ao nível de bem-estar pessoal. A insatisfação prolongada desse sentimento estaria associada a crescente isolamento, alienação e solidão, com forte impacto sobre a saúde do indivíduo.

Carissa Romero, em seu artigo “O que sabemos sobre o pertencimento a partir de pesquisas científicas” pontua que os estudantes com elevado grau de confiança em sua aceitação pelos professores e pelos pares engajam-se mais completamente no aprendizado, enquanto os menos confiantes permaneceriam em constante estado de alerta em busca de “pistas” que indiquem sua aceitação/rejeição. Essa hipervigilância seria geradora de stress, resultando no desvio de recursos cognitivos essenciais ao aprendizado.

Uma série de quatro estudos empregando diferentes metodologias descobriu uma forte correlação estatística entre a sensação de pertencimento e a sensação de significado na vida. Ou seja, a pessoa que não se sente uma parte valiosa de um grupo tende a sentir-se sem valor, como se sua vida não tivesse sentido.


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O pesquisador Mark Leary afirma que, tal como sugerimos no artigo anterior, a necessidade de pertencimento é a verdadeira causa da autoestima:

“Em vez disso, as pessoas apenas parecem buscar a autoestima porque elas frequentemente se comportam de modo a manter ou aumentar o seu valor relacional. Os comportamentos que foram atribuídos a esforços para manter a autoestima refletem os esforços pessoais para manter valor relacional aos olhos dos outros. Elas parecem buscar a autoestima porque esta é uma saída da unidade de medida que monitora o seu sucesso na promoção de seu valor relacional”.

Embora a maior parte dos estudos sobre a Psicologia do Pertencimento seja orientada ao desempenho no ambiente educacional (escolas, faculdades) e de trabalho (empresas, órgãos públicos, carreiras autônomas, etc), o fato é que a sensação de pertencimento permeia toda a existência humana. A primeira organização à qual todos necessitamos pertencer é a família em que nascemos. Também nos afiliamos, e desejamos o pertencimento, aos mais diversos grupos e organizações sociais, desde os menores e singelos, como os nossos parentes mais próximos ou a associação de moradores de nosso bairro, até os mais amplos e complexos, como o nosso país ou, ainda, à civilização a que pertencemos e a cuja obra nos cumpre dar continuidade.

Ora, não é preciso um grande esforço mental para entender, a partir das informações reunidas neste artigo, o efeito devastador de uma filosofia educacional que:

1. Sob inspiração tecnocrática e positivista, exclui o indivíduo da grande aventura humana da civilização a que pertence, concentrando sua atenção somente nos aspectos imediatos da solução pragmática de problemas estreitamente definidos; e,

2. Sob inspiração marxista revolucionária, dedica-se a incutir nos estudantes o ódio e o desprezo a sua própria família e antepassados, ao idioma que fala, à religião em que foi batizado, ao país em que nasceu, à civilização que recebeu de herança, enfim, a todos os grupos nos quais a criança e jovem deveriam buscar o acolhimento e a satisfação de suas necessidades de pertencimento.

É, deste modo, urgentíssimo em nosso país o resgate dos valores, princípios e conteúdos da Educação Clássica de forma que nossos filhos sintam-se na posição de membros valiosos de um milenar legado civilizacional, uma riqueza inestimável que deve ser defendida contra a insanidade revolucionária em nome de nossa própria sobrevivência, tanto como indivíduos, quanto como membros de uma família, de uma nação e de uma civilização.

Índice de artigos desta série:

Vias Clássicas Valorizando o Conhecimento