Posts mais comentados
- Triolé Verde e Amarelo — 3 comentários
- De pedras e caminhos — 2 comentários
- Serpente pérfida — 1 comentário
- Advento — 1 comentário
- Senhor, iluminai — 1 comentário
jun 17
Entre os gritos da liberdade
E dos tiranos os sussurros
De mil tochas as chamas ardem
No peito dos homens maduros.
Na política da cidade
Entregue às garras dos impuros
Morrem 2 mil a cada tarde
E as feras rosnam, rugem, urram!
Do que seria o paraíso
Transmutado num cataclismo,
Não há fuga, consolo ou bálsamo:
Caprichosos e sem juízo
As portas abrem ante o abismo,
Armando-nos o cadafalso.
jun 13
Orgulhoso de sua pequenez,
Pratica mais uma bufonaria:
Aquilo que jurou que não faria
Revela ao Senado tudo o que fez.
Horrível carrasco, injusta altivez,
Porta-cadáver da cavalaria:
Desonrado pelo que não diria
Que lhe resta? Um, dois dias? Um mês?
Que sua pena modelar denote
Epílogo das evitáveis mortes,
Despotismo que se esvaia num uivo;
A mão forte da Alta Casa o derrote,
Libertando-nos deste vil garrote
Que nosso solo retinge de ruivo!
jun 09
De emoção, é uma variedade diversa
essa que se dispersa no fino ar
da paisagem desértica, à luz polar
da aurora boreal. No tapete persa
assentado, nu e lúcido, o universo
agasalha-o contra as brisas que, do mar,
enregelam, enrijecem, ao silvar
o grito mudo de um peito que conversa
com deuses e homens. Atos, pensamentos,
recorda, ressente; tormenta rebenta
gélida aragem de uma vida marcada:
chegada a idade após os anos cinquenta
a tudo assiste e resiste, mas alentos
encontra apenas nas geleiras do Nada.
abr 23
Quem diria que em tão linda mente habita
O fardo cego dum amor tortuoso,
No sono leve, numa cama sem repouso,
O corpo pálido protruso levita.
Sua e treme, sonâmbula, pobre e aflita
Criatura de Deus, só no calabouço,
Presa da voz distante, eco tenebroso,
De feros rostos numas tardes malditas.
A agulha do barômetro cai, honesta
Indicadora de trovões que se abeiram
Do silêncio das águas claras, emprestam
Drama e cor, ares de tragédia, cimeira
Colisão de sonhos, fantasias crestas,
De tudo, nada resta: só uma caveira.
abr 03
Solitário no deserto imenso,
Amiúde, na diminitude
de minha urbe, faço-me mudo
Relicário indesperto; penso
Na grandeza de infinitas neves,
Nos ferozes majestosos ventos:
Atrozes, horrorosos eventos
Na baixeza destas vidas breves.
Na imensidade somos minúsculas
Partículas de uma vontade
Inconcebível, até que tarde
Demais, no minuto do crepúsculo,
Fatalidades imprevisíveis
Como fátuos vestidos de gaze
Beijam o fado e à tona trazem
Debilidades dos infelizes.
(inspirado na foto)
mar 10
E Dado
que tudo
sucede
à moda
dos maus;
E Fatos
absurdos
impelem
a roda
do caos;
E Raios
agudos,
procelas
à volta
do cais;
Lacaios
sanhudos
querelam
revoltam
sem paz;
Os Ratos
miúdos
laceram
as rosas
sem mais;
E Gatos
testudos
operam
sabotam
finais;
Só resta
o amor
de Deus.
mar 09
Andrômeda à rocha acorrentada
Esgazeia e grita, sente o bafo
De Poseidon; o monstro a farrapos
Reduz-lhe a vontade enquanto nada.
Estrondeantes os pés do monstro
Já os sentes cavalgando as pedras:
Ó, Andrômeda, por que te perdes
Nos pensamentos que mais te assombram?
Andrômeda, não há mais Perseu,
Que empunhe da Górgona a fronte,
Que de tua sina seque a fonte;
Não há correntes, nem a Caronte,
Pagarás o óbolo, se a ponte
Para o Céu implorares a Deus.
mar 08
Afastando meus olhares de Mérope
Em direção ao futuro, sagaz,
Navego o árduo desejo de paz:
Odisseu perdido, só, sem Penélope.
Ensurdecido ao silvo das sereias
Atado ao tronco túrgido e tenaz
Envido a vida tênue e, assaz
Sofrido, rujo um estralo nas cadeias.
Fujo aos dentes aguçados dos Cíclopes,
Fujo à fúria insana dos Lestrigões,
Fujo de Calipso as mortais paixões,
Fujo e resisto aos encantos de Circe.
A tudo escapo porque em minha mente
E corpo não cabem mil corações:
Da vontade eu faço mil torreões
Donde o futuro se vê do presente.
jan 21
A esperança de vida se chama
Coronavac!
Medo! Virem jacaré os que amo,
Vá que!
Sôfrego anseio a agulhada bendita
No braço.
Da trilha dorida à sorte desdita
Não passo.
De chineses talentos a Ciência —
Toque de gênio! —
O Brasil se ampara contra a carência
De oxigênio.
À Sinovac meu corpo todo grita
Muito obrigado!
E a Deus peço a indulgência imerecida
A todo o gado!
nov 09
A mão Esquerda furta e trapaceia
Quer ser de ferro, lúbrica e fatal;
Mão do desterro, célebre no mal,
De desespero, trai-nos em sua teia.
A mão Direita, cobra sorrateira,
Da Liberdade quer ser a fiscal;
Da santidade a única e final
Embaixadora, última e primeira.
No centro, a voz agônica do povo
Eleva aos céus sua fé no amor de Deus;
Clama e pranteia, em chamas, por um novo
Porvir brilhante e próspero pros seus,
De leite e mel, liberto, sem estorvo:
Mas o Centrão só quer não mais ser réu!