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jul 27
Eis que tudo se torna
sensivelmente mais fácil
quando cesso a caça
por aplauso e riso;
e – observe a coincidência! –
eis que eles surgem,
sibilantes consequências
do que faço e penso
sem ao que ao menos pense nisso!
jul 27
Narro o rebentar das ondas políticas
Com os pés enfiados na areia
Esperando mantê-los secos.
Ato-me ao mastro da nau das críticas
Surdo ao encanto das sereias:
Só dos fatos ressoo os ecos!
Leio mentiras em mantos de análises,
Vis e descaradas notícias,
Discursos disfarçam trapaças.
Do licor indignante sorvo cálices:
Aos poderosos, as carícias,
Aos eleitores, as caraças!
jul 23
Brasileiro, ergue por um átimo tuas ventas
do pó ao qual retornarás,
Lança ao fogo do esquecimento
as mazelas nacionais,
as lamentações infindas,
Finge – isto que fazes tão bem!
– não afligir-se da sobrevivência,
O alimento em grande estoque, as contas pagas,
corpo nutrido em abundância,
conforto e exuberância,
ostentação e luxo, tudo isto
Finge já os possuir e, ao espelho, indaga
com o ar de enfado dos bem nascidos:
– Que faço agora que de nada
mais posso me queixar?
Responde. E faze-o.
Eleva tua alma, brasileiro;
Ausculta a música da eternidade,
Extasia-te no ouzo das letras do universo,
Deságua lágrimas n’airosas visagens:
Das procelas econômicas, poesia;
Das insídias governamentais, peças de teatro;
Das misérias sociais, venustas paisagens;
Das almas corruptas, contos de virtudes,
Romances de valores, poemas heroicos
E quadrinhos de super-heróis.
jul 19
Elas mesmas que bafejam
aragens de eufemismos
insinuando os erros próprios;
Elas mesmas que trovejam
Tumultuosas tormentas
tonitruando os teus!
jul 19
“Success is counted sweetest”(Emily Dickinson) |
O sucesso canta mais doce(trad. Alexei Gonçalves de Oliveira) |
SUCCESS is counted sweetest By those who ne’er succeed. To comprehend a nectar Requires sorest need. Not one of all the purple host As he, defeated, dying, |
O sucesso canta mais doce Na boca do fracassado. A compreensão de tal néctar Requer a dor do necessitado. Nenhum em meio às hostes púrpuras Quanto ele, derrotado, moribundo, |
jul 19
Nas ideias brindaste a solidão:
Das estéreis, mortas inteligências,
Ferem-te o opróbrio e a demência,
Dos compatriotas – nossos irmãos!
De teu curso fizeste lenitivo:
Santo remédio para almas canhotas,
Doce unguento para as mentes cambotas,
Letárgicas, do imbecil coletivo!
Censuras vis e magras como óbolos
Esputam hereges da Nova Era:
Estertoram – vermes! – na lama a inveja,
Da sublimidade fazem quimeras,
Escarnecendo das palavras régias,
Pois que – ora veja! – foste um dia astrólogo!
jul 19
Esperança: amiga indelével da dor contrita
Cresta do espírito o solo devoluto,
Calca as fímbrias do manto da donzela aflita,
Esgarça a fibra do guerreiro resoluto.
Fé: esposa amantíssima do deleite eterno
Na mansidão febril da certeza e da verdade
Ergue a fronte em desafio ao pós-moderno
E inflama ao rubro, de outros tempos, a saudade.
Na ágora da vida, esperança e fé combatem
Em cada peito; prevalece a cada instante
Ora a dama, ora a santa, terçando ambíguas
As espadas do argumento, tão profícuas,
Tão prolixas em seus verbos adamantes,
Indiferentes a quantos eles matem!
jul 19
Tua terra tem mil coisas
de que não podes te orgulhar,
Ou foste tu que ensinastes
às aves, o gorjeio,
ou o canto, ao sabiá?
Ou com tuas mãos plantastes
As palmeiras ou, nas várzeas,
As flores;
Ou, no céu, engastastes
As estrelas,
Ou, nos bosques, as tais vidas –
Ou, nas vidas,
Tais amores?
Gonçalves Dias,
Teu prazer com tais primores,
Ao mundo não aproveitará;
Dos desfrutes teus,
Das arredias e noturnas cismas tuas,
Permite, sim, a morte, Deus;
Imortais apenas as canções
que no exílio da alma compuseste:
Todas muito mais belas
do que o canto do sabiá.